Tarô Mitológico – Relato Pessoal

Posted by: Geraldo Spacassassi

Alunos e clientes, freqüentemente, perguntam-me: “Como o Tarô surgiu em sua vida?”, “Por que você elegeu o Tarô Mitológico como sua ferramenta de trabalho?

Considero esse questionamento muito adequado esadio, principalmente, para aqueles que estão iniciando seus estudos e pesquisas nessa área.

Para responder a primeira questão, sou forçado a relatar minha experiência pessoal. Tudo começou em 1972, quando ingressei no Instituto Chela Yoga. Neste Instituto, sob a orientação do Prof. Molinero, eu vim a conhecer as mais variadas técnicas e linhas filosóficas do Esoterismo. Após um longo período de estudo e aprendizado, chegou finalmente o momento em que tive de optar por uma área. Desliguei-me do Instituto, passando, algum tempo depois, a me dedicar tão somente ao estudo da Astrologia.

Durante minhas férias em 1987, realizei uma peregrinação pelos Caminhos do Rei Arthur na Grã-Bretanha. No final dessa jornada, tive a oportunidade de visitar o Circulo de Pedras de Callanish, na Isle of Lewis, tendo como guia uma pessoa especial: Eric, professor aposentado, estudioso do Esoterismo. Essa afinidade de interesses resultou numa amizade e troca de experiências marcantes.

Quando nos preparávamos para deixar Callanish, Eric mencionou que gostaria de despertar minha atenção para uma técnica valiosa – o Tarô – que abriria novas perspectivas para meu crescimento.

Estremeci! Estava a um só tempo temeroso e apreensivo. Todo meu esforço até então, havia sido direcionado ao estudo da Astrologia e, devo confessar, tinha uma aversão por todo tipo de baralho e suas práticas.

Relutante, aceitei seu convite. Fiquei hospedado em sua residência por um dia e meio. Tivemos a oportunidade de conversar muito, bem instalados em sua ampla sala de estar. Percebendo meu desconforto toda vez que a palavra Tarô era mencionada, num dado momento de nossa conversa, Eric levantou-se do sofá, dirigiu-se a um móvel, abriu uma das gavetas, retirou uma caixa que passou às minhas mãos

Com esse pequeno truque, Eric venceu minhas resistências!
A partir desse momento ele assumiu o comando. Separou as lâminas do Tarô em dois grupos: Arcanos Maiores e Arcanos Menores. Informou-me que passaria as noções dos princípios básicos do Tarô, utilizando-se apenas do embasamento astrológico que eu possuía.

Atento e fascinado, anotei os esquemas básicos que ele me transmitia!

Eric era um mestre! De forma clara, sem arroubos de erudição abordava o conhecimento esotérico com simplicidade, exemplificando e aplicando-o as situações e desafios do cotidiano.

De volta ao Brasil, com minhas anotações e um exemplar do Tarô Mitológico adquirido em Londres, tentei estudá-lo e assimilá-lo sem grande sucesso.

Uma amiga, versada no “Taro Adivinhatório”, informalmente ministrou-me algumas aulas. Após essa experiência, conclui que deveria freqüentar um curso regular sobre o assunto. Inscrevi-me num curso de Tarô Egípcio/Kier. Por um ano e meio, estudei sob a orientação da professora Sonia Mountian e consegui evoluir muito. Algum tempo depois, aventurei-me em utilizá-lo em consultas informais.

Paralelamente, continuava meu estudo solitário do Tarô Mitológico. Tornei-me um leitor compulsivo do assunto, tentando absorver o conhecimento e metodologia dos mais variados autores da área.

Por volta de 1989, mais confiante, passei a utilizar definitivamente o Tarô Mitológico em meu trabalho.

Finalmente em 1992, já aposentado, inscrevi-me num curso, ministrado pelo mestre Otávio Calonge. Em suas aulas, Otávio se valia das cartas do Tarô de Balbi. Pouco tempo depois, ciente de minhas dificuldades e interesse específico no Tarô Mitológico, ele se dispôs a ajudar-me efetivamente. Com ele, tive finalmente o primeiro treinamento formal em Mitologia Grega e nos fundamentos da Cabala. A partir de então, mais confiante, tento a supervisão segura desse amigo/mestre, passei a atender profissionalmente. Foram dois anos de aulas e encontros extremamente proveitosos.

Por volta de 2003, desenvolvi e passei a utilizar uma nova abordagem de leitura da Mandala Astrológica, inspirado nos ensinamentos do mestre Eric. Fiquei muito satisfeito com os resultados obtidos. Resultados estes confirmados por ex-alunos que passaram a se utilizar desse método em suas consultas, e até carinhosamente apelidaram-no de “Método Spacassassi”. Optei por denominar essa jogada de “Mandala Astrológica e os Caminhos do Crescimento Pessoal” quando de seu registro autoral na Biblioteca Nacional. A descrição detalhada desta metodologia está em fase final de revisão e avaliação.

O estudo e pesquisa continuam! Nos últimos anos, tenho me dedicado ao estudo do “Taro Clássico”, com base na obra do mestre, Nei Naiff, que só vim a conhecer em 2004, por indicação de uma amiga e ex-aluna. Paralelamente, estou reciclando os ensinamentos do livro “Jung e o Tarô” de Sallie Nichols e obras de autores junguianos diversos.
Respondendo a segunda questão – “Por que você elegeu o Tarô Mitológico?” – tenho a convicção, que não o escolhi, fui “escolhido”. Sou muito grato a este Tarô. Ele mudou minha vida… Para melhor!

É esta energia, este ideal que procuro transmitir aos meus alunos.

Confesso, nunca poderia imaginar que me tornaria um “especialista em Tarô Mitológico”.

Freqüentemente, sou consultado por todos aqueles estudantes que buscam melhor conhecê-lo. Mas o que realmente importa, não são esses aspectos subjetivos, mas sim a eficiência e eficácia desse oráculo nas consultas de aconselhamento.

Com base em minha experiência, gostaria de ressaltar:

O consulente, em geral, reage de modo muito positivo com relação a este Tarô. Sem grande esforço ele consegue participar do processo, conferindo se a mensagem que está sendo transmitida se harmoniza com a imagem da lâmina enfocada. Isto gera confiança e credibilidade.

A leitura flui de forma agradável, graças as suas imagens simples, claras e diretas, criadas pela artista Tricia Newell. Quando, eventualmente, essa clareza não se estabelece, sempre podemos apelar, como último recurso, para a descrição do mito retratado e os aspectos psicológicos envolvidos.

Como tarólogo, julgo importante nunca perder de vista, durante o processo de aconselhamento, as informações estruturais básicas dos Arcanos Menores – Polaridades, Elementos, Modo de Ação – que neste Tarô são magistralmente evidenciadas em suas lâminas. Essa riqueza de informações e detalhes precisa ser utilizada em favor do consulente. Afinal, os Arcanos Menores apontam os acontecimentos, as situações objetivas do cotidiano, onde o conselho fornecido pelo Arcano Maior deverá ser aplicado para que o crescimento aconteça. Quando, através do diálogo, conseguimos realizar esta síntese, a clareza surge e o consulente é o grande beneficiado.

A Mitologia Grega, que lhe serve de base, jamais soa estranha, pois está fortemente enraizada nas manifestações culturais da vida ocidental. Pessoalmente, utilizo-a apenas em minhas aulas. Abordo cada mito minuciosamente, com uma riqueza de detalhes que ultrapassa o material contido no livro.

Considero-a uma ferramenta indispensável a todo aluno que almeja tornar-se um profissional. Esse mergulho fascinante no mundo dos deuses e heróis incita-nos a rever conceitos, valores e preconceitos, alargando horizontes, promovendo o crescimento. Deixemos que as autoras deste Tarô se pronunciem a esse respeito:

“Os deuses gregos não são propriedade exclusiva de qualquer particular escola esotérica, doutrina religiosa ou caminho espiritual. Amoral e, no entanto, contendo profundas verdades morais, eles antecedem e permeiam os nossos símbolos religiosos judeu-cristãos, assim como a arte e a literatura de toda a cultura ocidental. Além disso, continuam sendo as imagens mais fundamentais e precisas que descrevem o funcionamento multilateral e multicolorido da psi­que humana. Eles são símbolos da própria natureza, a nossa própria natureza humana com sua profunda ambivalência de corpo e espírito, e seus mutuamente contraditórios esforços para a auto-realização e para a inconsciência. A compreensão de nossa própria ambivalência começou, apenas recentemente, a ser restaurada ao seu antigo objetivo pela moderna psicologia de profundidade, que inevitavelmente teve de voltar à fonte – os deuses pagãos – para poder entender o comportamento humano. Assim, tanto nas cartas como neste livro, aderimos aos tradicionais significados das cartas, ao mesmo tempo ressuscitando os velhos deuses enterrados sob séculos de ‘refinamento’.”

 

Conclusão:

 

 
Acredito, que todo tarólogo tem a obrigação de se manter atualizado, conectado com seu tempo. Só assim, poderá continuar exercendo sua missão eficiente e eficazmente.

Uma questão, que me aflige e preocupa, é constatar a banalização do uso e dos métodos de ensino do Tarô oferecidos pelo mercado.

O mínimo que se espera de um tarólogo é que tenha uma solida formação técnica, humanista e ética. E esta formação, em minha opinião tem de ser abrangente, estabelecendo conexões com as demais áreas do conhecimento, em especial, com a Psicologia e a Ética.

Trabalhamos com seres humanos! Não podemos jamais nos esquecer desse fato!