Canção dos Caminhos. Os arcanos de Cecília Meireles – Introdução

Posted by: Redação Clube do Tarô

INTRODUÇÃO à Galeria de Poemas

Por
Leonardo Chioda

 

“E aqui estou, cantando.”

Cecília Meireles é uma alegoria. Simbolista, modernista, abstrata e antiga, seus livros VIAGEM e VAGA MÚSICA é uma caminhada repleta de signos e impressões. Miríade de imagens, sons, cores e estilos. Deixa-se levar pelo ritmo, tal qual o andarilho sem número e sem rumo. Se colocada ao lado de um maço de cartas, toma-se uma indecisão: em qual se deve mergulhar?

Ambos se fundem se o leitor tiver olhos livres e coração espaçoso. São estruturas fortes, construções poéticas bem firmes – que não se engane quem a imagina frágil.

Suas letras são jogadas aleatoriamente, ao mais puro acaso, como arcanos sobre a mesa.

O resultado são viagens e notas de uma vaga música tão íntima que apenas os mais atentos podem sentir.

 

 

LIBERDADES necessárias
à Galeria de Poemas

 

 
Primeira: esqueça os conceitos das cartas. O tarô é uma arte livre, desde que dentro de sua estrutura simbólica. O que vale é a inocência de criança ao abrir um livro desconhecido de viagens e notas – ou páginas soltas que, quando tocadas, afogam o espírito em cores, traços e vidas possíveis.

Segunda: Cecília é livre dentro de si mesma e se estende no papel. Ouça-a em cada arcano; escute-a em cada imagem. Deixe os significados e atente-se às impressões. Vale deixar aflorar os sentidos, sejam eles quais forem.
“Diáfana”, aquarela de Leonardo Chioda inspirada no desenho de Arpad Szenes
“Diáfana”, aquarela de Leonardo Chioda inspirada no desenho de Arpad Szenes.

Terceira: esqueça ordens e seqüências e contemple a vastidão da essência de cada imagem em seu devido poema. Por vezes, a escolha dos textos pode parecer equivocada ou 0incompleta, aproximando-se de uma outra lâmina – algo totalmente lógico, já que todas estão interligadas e vieram da mesma fonte inspiradora. Portanto, abra-se aos desenhos e palavras e deixe definições concretas de lado. Atenha-se à canção que alcança o mundo de cada um.

 

UMA BREVE CECÍLIA*

 
Cecília Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, no Rio de Janeiro. Respondia pontualmente todas as cartas que recebia, mas atrasava-se, às vezes, em agradecer livros, porque só agradecia depois de lê-los. Adorava música, especialmente canções medievais, espanholas e orientais.

Admirava todos os bons poetas e preferia os pintores flamengos. Dormia e acordava cedo. Leu E ça de Queirós antes dos 13 anos. Escreveu o seu primeiro verso aos 9 anos. Estudou canto, violão, violino e às vezes desenha. Seu primeiro livro publicado foi Espectros, tinha 16 anos.
Cecília Meireles – foto de origem desconhecida

Seu principal defeito, segundo ela própria, era uma certa ausência do mundo e seu tormento era desejar fazer o bem a pessoas que precisavam de auxílio e não o aceitavam. Nunca viu assombração, mas gostaria de ter visto.

Não tinha medo de viajar de avião em viagens longas. Gostaria de viajar mais vezes ao Oriente e ter chegado até a China. Pensava que poderia, pelo menos, ficar muito tempo no Mediterrâneo.

Colecionava objetos de arte popular.

Já colecionou xícaras de café, mas acabou achando o café tão ruim que não valeu mais a pena colecionar os acessórios.

Teve grande emoção quando chegou aos Açores, terra de seus antepassados. Outra emoção grande foi quando viu a sua “Elegia a Gandhi” traduzida em idiomas da Índia. Foi a poeta brasileira mais conhecida em Portugal. Admirava profundamente São Francisco de Assis, Gandhi e Vinoba Bhave. O que a horrorizava era tocar em papel carbono, ver comer ostras e aspirar fumaça de ônibus. Amava crianças, objetos antigos, flores, música de cravo, praia deserta, livros, livros, livros, noite com estrelas e nuvens ao mesmo tempo. Faleceu em 9 de novembro de 1964, deixando grande obra inédita.

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