Durante muito tempo segui à risca as previsões anuais e, inclusive, escrevi a respeito. Para mim funcionava como uma bússola, um tom, um pano de fundo para as fases futuras. Com o passar do tempo, assim como grande parte das práticas profissionais que outrora praticava, comecei a rever esse conceito. Chego, então, ao tempo atual respeitando todas as previsões e possibilidades, contudo, não mais tentando encaixar 365 dias numa única representação simbólica. A meu ver, a parte boa de ganhar idade é poder mudar com ela.
Desse modo, escrever sobre 2019 se torna um grande desafio. Como falar sobre o próximo ano sem contê-lo num único aspecto ou possibilidade? Foi então que tive uma percepção: escrever sobre 2019 lançando mão de elementos simbólicos mediante tempos tão imprecisos. Afinal, verdade seja dita, 2018 não foi nada fácil e vamos para o próximo ano com um clima de ressaca. Aqui, então, o tarô pode ajudar – e muito – apresentando possibilidades comportamentais a serem adotadas, inspiradas nos arcanos. Não quero e nem vou definir um número ou uma carta ou um símbolo para o ano. Ao contrário, quero aqui extrair das cartas seus mais variados conselhos para olhar 2019 com a sensação de que, ainda que reticentes, tenhamos ferramentas à mão.
A vida nunca foi fácil, logo, não adianta a gente ficar esperando que as coisas melhorem e tudo fique como num filme com final feliz, isso só aumenta a ansiedade e – consequentemente – a frustração. A demanda cada vez mais exigente pela felicidade 24h por dia, 7 dias por semana, amplia nosso conceito de fracasso. A teologia da prosperidade e do empreendedorismo nos dá uma onipotência que, na prática, é impossível de tentar sustentar. Eis um dos motivos pelos quais a vida parece um pouco mais complexa ultimamente. Mas não vamos nos iludir, viver nunca foi fácil e a coragem de enfrentar essa mesma vida exige da gente suportar um constante estado de vulnerabilidade, que não é muito bem recebido pelas redes sociais e pelos pregadores da ideologia “só pare quando estiver morto”.

Adentramos, portanto, 2019 com mais dúvidas do que respostas. A menos que nos sirvam as frases de efeito para que conquistemos o impossível usando de uma liderança que não sabemos ao certo de onde arrancar. Os resultados líquidos e as fórmulas voláteis de sucesso se fazem pouco realistas. E são, de fato, difíceis de sustentar. Logo, olhar para o próximo ano com o propósito de sermos quem somos pode ser um grande desafio e simultaneamente um bálsamo possível. Podemos contar com quem nos tornamos e devemos, sim, aceitar a genuinidade de nossa existência. “Lá fora” o mundo anda selvagem. Vamos tentar usar na vida o que aprendemos e ensinamos através dos símbolos das cartas de tarô.
Que nosso 2019 possa contar com o Mago, começando sem garantias, mas justamente por isso se tornando uma tela em branco a ser pintada. E que, com o a capacidade da Papisa possamos elaborar essa pintura, sem pressa nos detalhes, mesclando entre os mistérios que às vezes não conseguimos desvendar e as situações que demandam silêncio observador. A comunicação da Imperatriz, mais do que nunca, sugere atenção e versatilidade, assim saberemos (e assumiremos sem medo) nossos limites definidos com o Imperador. Sermos leais ao que nos tornamos, como assim seria o Papa, para enxergarmos a responsabilidade de cada escolha que os Enamorados vierem a nos apresentar.

Determinados, como o Carro, mas nem tão obcecados para ignorarmos a cautela (já avisaria a Justiça), poderemos seguir com o Eremita num ritmo peculiar a cada um de nós. Sem se ocupar demais com os outros, mas ocupados com nossa própria jornada, pois só esse amadurecimento nos permitirá viver as transições e as reviravoltas da Roda da vida aceitando a todos como são. Assim, administrando e manejando a realidade teremos a Força como aliada e não como um enigma.
E então, nos momentos de sacrifício, o Pendurado poderá mostrar que a inação é sim um caminho por vezes necessário. Ali, refletimos e nos preparamos para os cortes essenciais que nos darão energia para aparar arestas, evitando seguir adiante numa fantasia dolorosa.

Cartas do Cosmic Tarot
Nem tudo estará em nossas mãos, para isso a Temperança ensinará a esperar e aprender com o tempo dos outros e com o tempo das situações. Mas nem só de lições e desafios se fará o próximo ano. O Diabo lá estará para nos lembrar que nossas vontades são importantes e que são elas que nos levam além, mesmo que nem tudo aconteça como anteriormente ambicionado, avisa a Torre. Ainda assim, as restrições não nos definirão e a Estrela se fará ativa para nos dar fôlego, num profundo respirar de resiliência. Se a gente vê sentido em algo é sinal de que ali há algo em que acreditamos.
A Lua nos relembrará que os dias nebulosos fazem parte do cenário, e fazem mesmo, pois o dilema entre o que a gente quer e o que a vida pode de fato nos oferecer não se decifra num único instante. Estar consciente disso é estar com o Sol ao nosso favor, iluminando os pontos escuros dos momentos imprecisos. Assim, transcendemos e superamos o que já passou com o Julgamento, buscando viver o que nos for permitido.

É dessa forma que o Mundo ganha espaço e nos leva ao viver pleno. Não um viver perfeito, onde tudo deve estar no lugar pré-determinado, mas um viver possível em que nosso maior intuito é incorporarmos quem nos tornamos e simplesmente existirmos. Sermos. Nesses flashes de plenitude só o Louco abre espaço para a gente possa rir da gente mesmo, tirando um dia de folga para o prazer.
Porque a vida é de fato uma jornada que não termina até que a gente não possa mais ver, em cada experiência uma chance de encontrarmos com quem realmente somos e nos saciarmos com isso. E isso não será diferente em 2019. O próprio tarô nos comprova, imageticamente, que mudam os tempos mas o ser humano segue quase sempre o mesmo, em suas conquistas, seus medos, seus dilemas e seus afetos.
Que venha 2019, e que nele todos os arcanos se misturem, se alternem e se apresentem como numa dança de possibilidades. Que seja um ano rico (e não apenas de riqueza) para todos nós.
Um forte abraço a todos os amigos e amigas do Clube do Tarô.
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