8 – A Justiça

Posted by: Redação Clube do Tarô

Invocação a São Miguel Arcanjo
(pequeno Exorcismo)

 

 

Encaminhado por
Luiza Maria P.O. Papaleo,
26/09/05

São MiguelArcanjo,
defendei-nos neste combate;
sede nosso auxílio contra as maldades
e ciladas do demônio.
Instante e humildemente vos pedimos
que Deus sobre ele impere,
e vós, Príncipe da milícia celeste,
com esse poder divino, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo
para a perdição das almas.
Amém.
 

A deusa

 

Alberoni
out.05

A deusa levantou a espada
e cortou-me pelo meio.

Contemplei meu corpo
com espanto, como se não fosse meu:
os sentimentos
gritaram em uníssono
e esse corpo (um trapo amarfanhado)
vibrava por hábito.

Um outro golpe certeiro rompeu
o que restou do coração.

Tornei-me a relva onde piso
e o canto do pássaro a verdadeira voz
há muito esquecida.

Não percebi
o terceiro golpe
que veio quase traiçoeiro,
e perdi-me na visão
impossível de descrever.

Tornei-me o próprio olhar
da deusa compassiva
e meu corpo o mundo
que respirava todas as formas em si.

No final, apenas no final,
sou a própria espada
e o que me sobra de consciência…
nada

 

 

9 – O Eremita

 

Meditação

 

 
Rodrigo Araês
nov.04

Busquem a voz interior,
é a voz do silêncio.

O Mestre vos fala
de maneira clara, lúcida, vibrante

Não se distraiam
neste momento sagrado.

Aqui o caminho é traçado,
cessam todas as dúvidas,
ressurge a esperança
no coração dos crentes.

Quando o dia escurece
é o único refúgio.

Não titubeiem
o Mestre vos espera
de coração aberto.

 

 

Caminhos

 

 

 

Renato Gregorian
ago.05

Em caminhos sem fim,
o tempo passou.
Para minha aflição e consolo
o mestre que me guiava
um dia confessou:
“A morte se insinua,
e continuo ignorante;
mas não é sem esperança”.
Em meio à pobreza do não-saber,
permanece o mistério
da humana peregrinação
na busca do despertar.
 

Mestre

 

 

Alberoni
ago.05

Pelo mesmo Mestre
ao lado mora a esperança,
e seu portal fica mais ao leste,
onde renasce todos os dias
nosso desejo, nossa ânsia
nossa vontadeenvolvida
por outros portais!

 

 

10 – A Roda da Fortuna

 
Arcano 10 e 17
Alberoni
mai.07

No fluxo e refluxo das ondas
e de novo elas nos envolvendo
cobrindo nossos corpos
não nos deixando pensar.

Nada a fazer
a não ser… boiar!
 

A roda

 

 
Alberoni
fev.07

Mandei notícias amanhã,
não hoje. Foi num vislumbre
de domínio do espaço e do tempo
e mandei o seu recado amanhã.

Talvez o receba hoje,
entre as demais cartas do correio,
ou quem sabe já a tenha lido
antes mesmo que eu a tenha enviado
e por isso está assim:
cabisbaixa, escondendo o olhar
como eu esperava ao ler minhas palavras
recebidas bem antes de escrevê-las.

Talvez afinal acorde
para o que acontece neste universo mágico
e assuma seus atos
como magistrais. É isso que eu faço
na surdina da noite
pois de dia, frente ao Sol
frente a vida que assumo clandestino …

Tenho medo.

 

 

O amor na roda

 

Alberoni
out.04

Quando o amor
bater na sua porta,
atenda com rapidez.

Até por não haver jeito,
pois ele é exigente,
quebra suas rotinas,
rompe os limites de sua vida,
e o faz voar.

Você passa a encarar tudo
de outra maneira,
quando ele surge.

Há mais risos
onde normalmente não há,
mais cores, mais vida
em toda parte,
e você, meu amigo sonha,
sonha muito
sem parar.

Se o amor
bater na porta de sua casa,
não hesite: abra essa porta.

Não será apenas um vizinho,
ou um ilustre convidado
que chega de repente para um jantar;
é sua própria vida
que renasce
para lhe dar uma alegria
sem par.

 

 

Movimentos

 

 

Alberoni
fev.07

Pela liberdade
não basta querer.
Há que seguir o impulso dado pelo vento
e voar sem temor.

Aproveitar o instante
aquele particular instante
que talvez não surja outra vez.

– – – – – – – – – –

Quando vier a nosso espaço
saiba que já estive por aqui
e voltei algumas vezes.

Não por nada, mas também
não por mero hábito já consagrado
por alguns anos juntos na trilha.

Apenas para beber uma energia
do qual sou sedento
e para lançar a esta energia meu pleno discernimento.

As coisas mudam, movidos pelo arcano 10
Como poderia ser diferente?
 

Momento

 

 

 
Alberoni

A sombra de um instante
esconde o teu momento.
Virá de supetão
virá de repente
virá como um furacão?

Ou como uma luz serelepe
aberta e agitada como um leque!

Aproveite o momento
tantas vezes adiado
aproveite o momento
tantas vezes adiado
aproveite o momento.

Que vibrará autêntico
e abraçará esplêndido
na sombra de um instante
todo o teu ser.

 

 

Para Luiz Carlos Kozlowski

 

 
Alberoni
out.05

Ouvi o seu chamado,
antes que o fizesse –
quase como um grito
que transpareceu ao toque.

Talvez não ouça minha voz
no meio dessa turba
que ainda o acompanha
por escolha.
Jogue fora essas armas
que a penumbra vela,
por confundir sua luz
que já é chama e nasceu eterna!

Foque sua consciência em mim
rompa seu coração repleto
segure seu sorriso…

E o marco solItário
que você ainda é
verdadeiramente
se revela.

 

11. A Força

 

Para Maiá

 

Alberoni
ago.05

Sua procura não se encerra aqui.

Talvez mais adiante
quando a luz do fim do túnel
for mais firme
a seus olhos encobertos.

Talvez tudo se revele
quando a procura cessar,
talvez tudo se encontre
quando abrir os olhos e ver
a Luz em todo lugar.

E, nesse momento,
não haverá túnel,
não haverá passagem
apenas você em cada olhar!

 

 

Para Ana Maria Gonzáles

 

 

Alberoni
out.05

Encontrei a mãe na encruzilhada,
negra como a noite
sublime, com suas vestes claras.

Seus olhos eram estrelas
Na difusa névoa que me envolvia.

Logo o homem trouxe o Sol na mãos
E tirou dos meus ombros
o véu da dama que já me encobria.
O véu que me dissipava as sombras
o véu que me engrandecia.

Claro como dia era seu sorriso
e ela uma neblina no aconchego e quente.
Ambos me confundiam com seu olhar profundo.

Fechei os olhos …

Nascendo de mim
dentro de mim

o conflito perecia.

 

 

12 – O Pendurado

 

O Enforcado

 

 
Eunice Arruda
do livro À Beira, 1999

Ainda assim
bebo o úmido
da seiva

Ainda assim
– estômago na boca –
mastigo o alimento
da terra

Pressentindo as raízes
 

 

O Sacrificado

 

 
Jaime Cannes
março.07

Pendia de uma árvore
Cujas raízes estavam no céu
E os frutos
Pendiam no chão
O Deus dos homens
Senhor das feras
E dos bosques
Cernunos, Odin,
Oxossi, Pã…
Puro como Jesus,
Silencioso como Sidarta…

E neste momento esvaiu-se
Para sempre a inocência
Do mundo.

 

 

Doze Invertido

 

 

Alberoni
12/2004

Só um pouco de cansaço
e talvez por isso
tudo fique mais lento.

Não um cansaço dos ossos
nem esses de alma
nem dessa visão do mundo
que já falei tanto e tantas vezes.

Mas algo que me prende ao solo
e tenho de tirar dos ombros
para conseguir respirar.

Mas, que adianta?
A sensação ainda persiste.
Melhor fechar os olhos…
dormir.

 

 

13 – O arcano sem nome (A Morte)

 

 

Arcano 13 suavizado pelo 2

 

 
Flávio Alberoni
fev.07

Talvez traga algo
que sempre procurei. Pode vir numa palavra
ou numa história,
ou apenas num olhar lúcido.

Talvez.

De qualquer modo
marca em mim uma certa ansiedade,
pelo provável encontro.

Chove aí fora?

Por aqui ainda não,
mas é como se uma tempestade
gristasse raivosa
na relva do jardim.

Talvez seja melhor – sempre é melhor –
o silêncio encobrir os meus atos,
e esperar…

em contemplação.

 

 

A Morte do mestre
Eliane Accioly Fonseca

 

 

 

Ensinou-me de frestas de montanhas,
do murmúrio dos ribeirões,
a ordenhar vacas enquanto líamos Kafka

a sobreviver em casa costureira
feminina e desordeira
em meio a azáfama de tesouras
e frufru de tecidos

Com ele aprendi de cercas de maracujá,
de cheiros de folha machucada
e dos mistérios gozosos
roxos e amarelos da flor guardiã
dos instrumentos da paixão

Tivemos lições de caminhar descalços
em caminhos pedregosos,
correr na praia e surfar o mar

Vivemos as artes do amor
e os perigos das curvas umidades
no calor e frescor de meu corpo
ao ritmo do dele se fundindo

Juntos apreciamos caipirinhas,
conhecemos vinho branco, tinto, rosado
e desprezamos no copo a borra do conhaque

Viajamos pelas diferenças entre o deserto
as estradas de terra e o asfalto
das ruas apinhadas das cidades

Um dia, entretanto,
ele que jamais me deixaria
estende um mapa sobre seus joelhos

pergunto-lhe: “mapa do quê?”

“Uma cartografia de pessoas mortas”, me diz
apontando como quem nada quer:
“este ponto rajado aqui embaixo, sou eu”

parecia Kafka a ordenhar uma vaca

e em seguida, como quem nada quer,
coloca o mapa sob o braço, como se baguete
e sem outra palavra se vai
sem se voltar, um tanto claudicante

Em dias-noite mergulho
em tristeza, a mais trágica das criaturas:
o sol jamais retornaria,
o mestre o levara, como ao mapa

Quando, porém, contra minha vontade,
o sol renasce
acende-se a luz de uma parcela minha
que ficava alhures e, como quem nada quer,
me humanizo mais um tanto

Percebo-me menos alegre,
mais desassossegada e
uma inquieta incerteza quando descubro:

a partir de então, ninguém me guiaria

 

 

A morte do gato
Eliane Accioly Fonseca

 

 

 

Enquanto o gato que me habitava morria,
(sete vidas espertas e bem vividas
agora moribundas)
um espelho explode todo um planeta,
a noite escura abate minha alma:

que mais em mim quebrando se esvaía?

Como ficar sem os muros
as heras e unhas-de-gato
as noites de cios vadios
as brigas e a malandragem
os gritos nas madrugadas
as travessias de ruas?

Sem o vício por sardinha
sem as cumbucas floridas
entornando leite ou água?

Sem os dengos
sem as manhas
o novelo arrepiado
e a poltrona beije rasgada
de afiar vinte garras?

Como perder o poder
de fazer tremer e correr
ratazanas e baratas?
A oitava vida parte, lunar,
em tranças pretas e prata

Nenhum príncipe para me acordar
(mas também, nenhuma torre
de onde ser libertada)

A grande morte chegara?
Passada a quarentena
brotos de um verde tímido, os vigias guardiões,
me tiram da cidadela gritando uma notícia:

“ouça o poeta a forjar um dia mais
martela a bigorna,
não sons de cristal, bem de bronze,
as palavras – esteira de mil sinos –
acordam inteira uma cidade, escuta!”

Um último suspiro apaga
a chama da pena de mim
seco os olhos, abro cortinas e persianas
com a força dançarina de mãos e braços,
e felina, (a isto não renuncio…)
espreguiço diante de um Sol acolhedor
a letargia sim espanto em uma cascata gelada
(coisa que gato abomina)

Me penteio, escovo os dentes
visto velhas pantalonas
e descalça, preparo-me para rodar
mais algumas tantas milhas
por estreitas vigílias escarpadas,
não mapeadas

 

 

A Surpresa

 

 

 

Eliane Accioly Fonseca
O gato-maravilha que em mim morreu
muitas vezes retorna,
cara redonda e invisível

Sua sombra errante corre livre
na saudade de bandos vadios
arrepiando as ruas e as paredes
de meu corpo

Intumescente lábio de lua crescente
fixo só na aparência
ri de mim, Alice,
prisioneira dos contrários,
o país dos espelhos
onde me extravio

na aprendizagem banal e mágica
de ser sendo humana

 

 

Árvores caídas

 

 
Alberoni
set.05

Vi as árvores caídas
e não pensei nelas. Eram crianças
famintas gritando por comer.

Homens destruindo
esmagam seus filhos, já cegos de si,
não vêem nada e resgatam
seus dramas do dia
mutilando tantos,
matando a vida,

morrendo aos poucos,
cada dia.

Tentei beber água
de uma nascente, próxima a um cipreste caído e apodrecido. Musgos o cobriam como vermes e mesmo os musgos eram belos, nesse esqueleto doído! Um gnomo fazia dela sua casa e olhava para mim com uma vela nas mãos, vazia de fogo. Quase só percebi o seu chapéu quando fugia amedrontado corria.

A água – eu dizia da água –
era límpida. Lágrimas de uma terra desprezada
e ofendida. Sangue
do homem a descobrir…

Salvou o meu dia!!

 

 

14 – A Temperança

 

Transformação

 

 
Eunice Arruda

Anjo
dá guarda
Eu estou atravessando
Também me empresta
de tuas asas
o vôo
Que eu chegue a nenhum lugar

 

Rebeca

 
Orides Fontela
(1940-1998)

A moça do cântaro
e seu gesto essencial:
dar água.

 

Infância

 
Renato
out.06

Um anjo com os pés no chão,
prepara bebida celeste.
Ah, que saudades me dá
este dom da infância!

 

 

Preparo

 

 
Alberoni
3.out.05

Logo após o preparo
e no devido tempo
o Anjo Solar
circula a energia
com suas ânforas vazias.

Não a contém pela mente
no círculo vasto que vislumbro
apreendo e pouco entendo,
apenas acompanho deslumbrado
sua dança e as mãos espalmadas
em círculos completos.

Em certo momento crítico
parece que para
e retorna suave em outro nível
que no entanto é o mesmo!

Não percebo movimento
ao acaso, e cada momento
compassado é atento

como por acidente o portal
que esconde o centro vívido
se revela…

e apenas neste momento mágico
eu penetro na Vida e … entendo!

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