Em abril de 2020, um mês após o início da pandemia, propus a Constantino lançar no Clube do Tarô uma coluna sobre a Arte em Tempo de Coronavírus. A ideia era identificar, comentar e registrar as manifestações artísticas surgidas durante o confinamento social e físico imposto pela COVID 19. Sendo assim, a coluna teria uma data de início, mas não teria uma data de finalização, pois esta estaria vinculada ao término da pandemia, que todos nós, ingenuamente, achávamos que seria janeiro de 2021.

Embora o assunto, A Arte em Tempo de Coronavírus, fugisse ao foco do site (Clube do Tarô – Tarot e Linguagens Simbólicas), minha sugestão para lançamento da coluna estava alicerçada pela (pre) visão de que iríamos viver um período trágico e muito importante para humanidade e que, por isso, o Clube do Tarô precisava redimensionar suas fronteiras de forma a abarcar o assunto, o qual não poderia ser ignorado face à dimensão mundial que o mesmo estava tomando, gerando uma tormenta histórica sem precedentes no mundo desde 1918, quando fomos atingidos pela gripe espanhola.
E foi assim que tudo começou. Era preciso resistir a esse mundo louco, diferente e desestabilizador – diariamente. Era preciso instrumentalizar as pessoas para confrontar com equilíbrio suas perdas e os absurdos vividos durante esta época. Era preciso fortalecer, física e mentalmente, o povo. E nada se iguala à arte, qualquer que seja ela, como ferramenta de resistência.
Historicamente, epidemias, contaminações, pestes e guerras sempre serviram de inspiração para muitos artistas. A grande diferença é que hoje encontramos representações praticamente imediatas da crise que se instaurou no mundo.

Em meio ao surto de Covid-19, a indústria cultural também sofreu consequências, mas o vírus não impediu que a arte acontecesse — seja para documentação histórica ou para a construção de uma nova realidade.
De abril de 2020 a março de 2021 falei, no Clube do Tarô, de arte de rua (grafitti), cartoon, desenho animado, filme, música, moda, fotografia, poesia, arte na varanda (música para os vizinhos), documentário e uma série de outros temas. Abordei manifestações artísticas feitas por famosos (Rolling Stones, Sebastião Salgado etc.) e também de expressões virais realizadas por anônimos (Leonardo Mareco, Léo Saldanha etc.).
Documentei a arte pré-pandemia, mas afeita a mesma, como a obra de André Caramuru Aubert, assim como a arte idealizada pós pandemia, a exemplo, de um mural de Eduardo Kobra.
Após alguns meses buscando novos assuntos para incluir na coluna, tomei conhecimento do ” The Covid Art Museum”: a primeira galeria de arte (virtual) criada em tempos de pandemia, projeto que nasceu pelas mãos de três amigos espanhóis, Emma Calvo, Irene Llorca e José Guerrero, onde tudo se passa na rede social Instagram. Descobri também o “Museu do Isolamento Brasileiro”, o 1º Museu digital do Brasil – sem barreiras nem fronteiras – criado pela jovem Luiza Adas, de 23 anos, hospedado também no Instagram; assim como as Artes Virais, um acervo virtual de artes produzidas no mundo durante a histórica pandemia.

Com esses três robustos canais, dedicados ao registro e documentação das obras de arte geradas durante a pandemia do coronavírus, surge uma questão: até que ponto a população brasileira e a mundial, estará disposta, no futuro, a consumir uma arte que lhe remete a um tempo de sofrimentos físicos e psicológicos e de absurdos sociais e políticos. Com a pandemia, fomos literalmente forçados a entrar de cabeça na virtualidade.
Então, não é uma revolução positiva, redentora. E ainda não sabemos como a arte vai lidar com essa natureza. Um outro questionamento a ser feito é se a Covid-19 pode reinventar a arte que consumimos, mas ainda é cedo para prever o que vai mudar.
Os horrores da peste foram traduzidos em diversas obras de arte dispostas em museus e prédios históricos mundo afora.
“O holandês Pieter Brueger (The Elder) traduziu o avanço devastador da peste sobre as instituições sociais e as coisas mundanas ao pintar O Triunfo da Morte, um quadro a óleo de 1563 que está exposto no Museu do Prado, em Madri. Outro exemplo é a gravura Doctor Schnabel von Rom, obra do alemão Paulus Furst, que retrata a vestimenta usada pelos médicos em Roma durante a epidemia de peste e integra o acervo do Museu Britânico”. Na literatura, por sua vez, um gênero inteiro foi criado. Autores que viveram a peste e muitos anos depois dela escreveram obras sobre os horrores da época. Entre as mais conhecidas está A Peste, de Albert Camus. (Fonte: UOL)

“É um momento de reflexão, para pensarmos na relação entre corpo e máquina, de entender as fronteiras entre privado e vida pública, os graus de intimidade. São coisas que entram na equação da arte como construção de conhecimento e interface”, comenta Martin Grossman, Professor Titular da USP, em entrevista a UOL. O ator e dramaturgo Vitor Rocha se coloca no processo de busca por respostas ao pensar o que será da arte a partir da Covid-19. “O grande desafio, agora, é encontrar um jeito novo de fazer arte para que ela chegue até as pessoas. É pelo celular? Produzida para postar numa rede social? Não são coisas estudadas numa escola de artes, e é uma grande oportunidade” afirma lançando a mesma indagação para a literatura e o teatro. (Fonte: UOL)
“Acho que as epidemias moldaram a história em parte porque inevitavelmente levaram os humanos a pensarem sobre grandes questões”, disse o médico Frank Snowden, em entrevista à revista The New Yorker. “As epidemias parecem levantar um espelho para enxergarmos quem realmente somos, e nem sempre [o espelho] mostra só o lado obscuro, ele também revela nosso lado heroico.” (Fonte: The New Yorker)
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