A Temperança e a Estrela em perfeito equilibrio

Publicado por Beatriz Delboni



Em meio ao caos, vagando pelo mundo, deparei-me com duas figuras muito semelhantes e, ao mesmo tempo, muito diferentes.

A Termperança e a Estrela colocam em harmonia o preparo alquímico e sua doação ao mundo Pintura de Beatriz Krebs Delboni aproximando, num mesmo cenário, os dois arcanos maiores do do Tarô – 14 e 17 – com mulheres manipulando cântaros.
A Termperança e a Estrela colocam em harmonia o preparo alquímico e sua doação ao mundo
Pintura de Beatriz Krebs Delboni aproximando, num mesmo cenário, os dois arcanos maiores do do Tarô – 14 e 17 – com mulheres manipulando cântaros.

Uma delas estava ajoelhada frente a um rio de incertezas e inúmeras possibilidades. Acreditando não ter tamanho poder para remediar a situação em que se encontrava, decidiu apenas aceitar o que o destino lhe propunha.

Abandonou o controle – que talvez nunca realmente tivera – e apostou na sorte. Não se sentia totalmente segura, mas aquela opção lhe parecia melhor do que gastar toda a sua energia com preocupações. Estava de peito aberto e, assim que chegasse a hora, enfrentaria o que fosse necessário. Não se tratava de simplesmente virar as costas aos seus problemas, mas apenas de compreender e aceitar de que a solução não era agir, mas esperar.


A outra figura, por sua vez, não parecia estar tão convicta de que o controle da situação lhe escapava. Tratava-se de algo difícil, sem dúvida. Porém, fazendo uso das águas do rio que havia sido nutrido pela consciência da primeira criatura, pôs-se a trabalhar. Não tinha pressa. Sabia que qualquer movimento brusco seria capaz de fazer escapar aquelas gotas tão preciosas, o que certamente apenas a atrasaria em sua delicada tarefa. Inspirava-se tanto nos frutos da terra quanto nos astros do céu e, pouco a pouco, suas mãos iam transformando aquela substância desconhecida, mas já bastante poderosa.


Ao término daquele ciclo de interações, as duas figuras foram capazes de alcançar aquilo que almejavam. Já não havia caos: as estrelas reluziam em harmonia, os animais cantavam e as águas jaziam cristalinas. A criatura ajoelhada agradecia, afirmando que, sem a habilidade da outra, nada daquilo teria sido possível. A outra, erguida, olhava para a criatura ajoelhada com serenidade. Explicou-lhe que havia sido um esforço conjunto e que, se estivesse em companhia de alguém mais impaciente, não teria sido capaz de manejar aquelas águas com tamanha precisão.


Contemplei as estrelas e, pela primeira vez, senti-me em completo equilíbrio.

***

Nota: a releitura que Beatriz Krebs Delboni fez das cartas “A Temperança” e “A Estrela”, arcanos XIV e XVII do tarô de Marselha, foi presente de aniversário à sua mãe, Vera Lúcia Jornada Krebs, médica reconhecida por seu profundo conhecimento e dedicação.


A ideia surgiu a partir de uma conversa entre as duas, em que Vera revelou admirar muito essas cartas, belas e misteriosas. Assim, pensando em um presente inusitado, Beatriz decidiu unir os dois arcanos maiores, como se estivessem interagindo entre si.

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