21 Maiores + 1 Louco + 20 Menores = 42 cartas
Quando comecei a utilizar o Tarô como complemento às consultas astrológicas, recorria apenas aos 22 arcanos maiores, para os quais existe uma literatura bem ampla e aprofundada. Já no caso dos arcanos menores permanece até hoje a lacuna de estudos consistentes, com duas únicas exceções das quais tenho conhecimento: o estudo de G. O. Mebes, traduzido no Brasil por Martha Pécher, e a obra de Gareth Knight. Ambos, porém, exigem um longo caminho de assimilação do conteúdo para se tornarem aplicáveis na prática habitual de tiragem das cartas.
Não mais me lembro quando, nem onde, ouvi ou li a sugestão de utilizar junto aos arcanos maiores apenas as figuras e os ases dos arcanos menores. Foi um bom estímulo para buscar uma nova síntese, pois o fundamento dos quatro elementos, tanto para os signos do zodíaco como para os naipes, oferece um repertório simbólico abrangente e flexível, que nos ajuda a transpor o receituário acanhado sobre os arcanos menores, tais como se encontram nos manuais disponíveis no mercado.
Cada um dos quatro ases pode ser legitimamente considerado como a síntese do naipe que representa. Cada ás encerra potencialmente, tal como uma semente, todos os atributos que se desdobram na sequência numérica até o 10. As figuras, como apresentadas por Mebes (veja o quadro em As 16 figuras da corte), permitem uma personificação gradual dos quatro elementos. Partindo do paradigma simbólico da quadruplicidade é bem possível agregar, com a experiência e o intercâmbio, um quadro confiável de significados práticos, aplicáveis à vida imediata. Em suma, essas 20 cartas (4 ases e 16 figuras) compõem um conjunto que se equilibra quantitativamente com as 22 cartas dos arcanos maiores, ou 21, se colocarmos o Louco (o zero) como mediador entre ambos os conjuntos.
Nessa visão, enquanto o arranjo dos 20 arcanos menores traduz a dinâmica da Quadruplicidade ou dos quatro elementos, os 21 arcanos maiores representam o Setenário ou a Lei das Oitavas em três níveis (7 x 3). É esse o quadro teórico que permite diferenciar e combinar parte dos arcanos menores com a totalidade dos maiores, num conjunto de 42 cartas embaralhadas juntas.
Para fazer um pequeno exercício lúdico, de livre pensar, posso dizer que essas 42 cartas representam um belíssimo arranjo para dar conta do atendimento àqueles que nos procuram como interlocutores de suas questões existenciais, pois 42 pode ser visto como 4 + 2 = 6.
Traduzindo esses números pelos arcanos maiores, diria que o 4, o Imperador, simboliza o bom provedor, que cuida de todos os ângulos de uma questão: ele é firme e forte. Sua atuação é enriquecida pelo 2, a Papisa, o princípio da receptividade, da reflexão e da paciência para que os processos amadureçam a seu tempo. Ambos reunidos, 4 e 2, geram o 6, os Namorados, a estrela-de-davi, o encontro amoroso do céu e da terra, o arcano da livre escolha para aceitar ou não os compromissos na vida, consigo mesmo e com os outros.
Na verdade, existe uma razão prática para eu não utilizar usualmente o baralho completo: as cartas de 2 a 10 dos quatro naipes, no tarô clássico (ou tradicional), são mais abstratas que todas as demais e é muito mais difícil que evoquem significados por si sós. Como gosto durante as consultas de estimular um certo nível de interação do cliente com as cartas e ouvir as impressões que elas provocam, a seleção das 42 cartas tem se mostrado bem adequada a esse propósito. Mais do que um recurso psicológico para avaliar as projeções pessoais, constitui um eficaz estímulo para o exercício do pensar simbólico.
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