Na lista dos “arcanos malditos”, a Morte, um arcano difícil de aceitar como sendo bom, na verdade pode nos ajudar a enxergar as coisas como elas realmente deveriam ser.
Existem muitos mitos por trás desta carta tão temida. Nos antigos baralhos de tarô não existe a numeração conhecida por nós e nem a nomenclatura gravada nas cartas, como nós conhecemos hoje. Isso foi adicionado ao longo do tempo, provavelmente para facilitar o jogo. E então todos os arcanos ganharam um número e um nome inscritos nas cartas, com duas exceções: O Louco, que ficou sem número, e eu falo sobre isso no artigo: Quem é O Louco no tarô: o 0 ou o 22?, e A Morte ou O Ceifador ou O Arcano Sem Nome, como queiram, que é considerado tão maldito, que nem ousaram escrever seu nome na carta.
O número atribuído ao arcano também ajuda nessa questão, pois existe uma série de superstições e azar envolvendo o número 13. Fui pesquisar a respeito disso e descobri que o medo do número 13 é muito mais comum do que podemos imaginar e até existe uma doença catalogada para isso, cujo nome é Triscaidecafobia (veja na Wikipedia: Triscaidecafobia). Essa fobia, e também todo o azar ligado ao numero 13, estão diretamente relacionados ao medo da morte. Muitas fontes apontam como origem disso a última ceia de Cristo e seus apóstolos, pois eram 12 sentados à mesa mais o Cristo, que foi traído por um deles, crucificado e morto. Não se sabe se isso deu origem à crença, mas caso não tenha dado, só veio reforçar o medo que já existia da morte envolvendo o número 13, e que até hoje se faz presente.
E só para ter uma ideia…
• Na fórmula 1 apenas dois pilotos usaram esse número após o acidente fatal de Giulio Masetti. É um número rejeitado entre as escuderias.
• Em algumas regiões no interior da Itália não existem casas com essa numeração.
• Uma matéria do Globo Repórter diz que oito em cada dez edifícios em Nova York não têm 13º andar (veja: www.g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/).
• Em algumas companhias aéreas não existe a fileira 13 nas aeronaves, tal qual nos elevadores americanos, a numeração pula do numero 12 para o 14.
E por aí vai… A esse arcano de número temido pelo próprio significado da carta, foi atribuída a imagem da morte como um esqueleto, com ou sem manto e capuz, segurando uma foice num cenário de um campo onde se encontram cabeças e corpos dilacerados espalhados pelo chão. É a imagem mais forte do baralho, em minha opinião.
A Morte vai passando e cortando sem dó e nem piedade, apenas fazendo o seu trabalho. O que precisa ser feito. Aquilo que já passou do tempo, que não tem mais como florescer. É a hora de ceifar o campo e prepará-lo para uma nova semeadura.
Quando esta carta sai como um conselho, considero o Arcano mais difícil de segui-lo, pois significa que a pessoa que o tirou precisa abandonar por si própria o hábito, vício ou situação em que se encontra, largando mão da acomodação e do benefício quaisquer que sejam eles, naquele contexto, pois a situação está caminhando para um cenário muito destruidor. Diferentemente da situação que eu descrevo no artigo da Torre: Uma Torre em minha vida!, onde a situação é interrompida pela Providencia Divina, porque a pessoa insiste em ir na direção errada, a dificuldade da Morte é assumir ser o Ceifador da própria vida: aceitar que não dá mais pra ir em frente e que é preciso cortar o que não pode mais continuar.
O recado da Morte é o seguinte: “– Certas coisas precisam acabar, antes que elas acabem com você e essa situação, relação ou hábito… É uma delas!”. Quem se habilita? A dificuldade de seguir este conselho é que mesmo numa experiência ruim, sair da zona de conforto, ou vencer o medo de mudar, pode parecer pior do que está sendo vivenciado, porque isso já é conhecido, já se sabe lidar. Mas se foi dado como conselho do Oráculo… Há de ser seguido para o próprio bem… Afinal, pra que o pediu? E quer saber? O consulente já sabe disso… No fundo, no fundo, ele sabe que aquilo não é bom pra ele, o que ele não sabe é que precisa cortar agora, ou será tarde de demais. Onde quer que saia a Morte numa tiragem o consulente está presente. Ele é o autor e sabe o que é preciso fazer.
Quatro cartas da Morte, arcano 13.
Quando essa carta sai em uma posição onde não é pedido um conselho, ou numa posição em que representa o consulente (onde ele está “de Morte” como dizemos na gíria), a pessoa já tem a plena consciência de que é preciso cortar. É o cair em si, de que aquela situação não pode mais seguir adiante e ela própria terá que resolver isso, apesar de querer que a situação fosse diferente.
É dureza, mas é uma das cartas de maior “empoderamento” que existe no Tarô. É uma tomada de decisão pelo bem maior. É a senioridade tomando conta. Não é fácil, mas é o que precisa ser feito e a pessoa tem essa percepção. E por causa dessa visão, da situação como um todo que gerou essa tomada de decisão, é que o consulente aprende com o erro cometido.
Novamente comparando com A Torre, onde a situação foi bloqueada, interrompida por uma “força maior”, a Morte traz o corte provocado pela tomada de consciência da própria pessoa que percebe estar numa situação onde não pode mais sustentar. Nada lhe é tirado. O consulente é quem resolve mudar, cortar, terminar e seguir outro rumo. Ceifar o campo para um novo plantio. Na situação com A Torre o consulente sofre a ação, com o Ceifador, ele é o autor da ação!
Após esse período, a perspectiva é de melhora e de não retomar mais o cenário anterior, pois a lição foi aprendida, plasmada na alma e nunca mais será repetida. É quando alguém consegue romper aquela relação pesada que não aguenta mais. Ou após um longo período de gastos desmedidos, consegue cortá-los, renegociar as dívidas e pagá-las finalmente. É quando realmente alguém vence um vício. Aqui não é necessário fazer um relatório de lições aprendidas, porque a lição virou propriedade. A fraqueza virou o ponto forte!
Um novo ser se apresenta e as promessas de outros tempos finalmente chegam novos brotos começam a nascer no campo ceifado, trazendo o prenúncio de uma boa colheita. Aqui dá pra dizer: “Depois da tempestade, a bonança”.
É um arcano difícil, mas extremamente poderoso, você não acha?
E aqui para nós, um dado curioso que eu achei: O AI-5, o decreto mais poderoso e cruel da ditadura militar brasileira, data de um dia 13.