Publicado por Vera Vilanova

Ninguém Tá Olhando é uma série produzida pela Netflix e pela Gullane Entretenimento lançada em 22 de novembro de 2019, mas que infelizmente não terá continuidade em 2020. Se há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia, como seria um mundo em que fossemos protegidos não por anjos da guarda, mas por “Angelus” fardados e padronizados, que vivem num sistema altamente burocrático, como uma verdadeira repartição pública, para ajudar diariamente cada ser humano deste planeta? O que parece ser um delírio foi materializado em forma de ficção nesta série brasileira original da Netflix.

Imagens disponíveis em www.netflix.com/br/title/80244700 Os crédito das fotos vão para Aline Arruda
Imagens disponíveis em www.netflix.com/br/title/80244700 Os crédito das fotos vão para Aline Arruda

A trama da série começa a partir do momento em que Ulisses (Victor Lamoglia) é gerado como um novo Angelus: um ser supostamente divino cujo propósito é proteger os humanos dos mais variados tipos de acidentes. Ao passo em que Uli é apresentado formalmente ao sistema de operações pelo fiscal Fred (Augusto Madeira) é possível percebermos como o local possui uma rotina muito similar à de um cartório, por exemplo. Humanos operacionalizam processos sem muita necessidade e complicam o que deveria parecer fácil.”


“Com os Anjos (Angelus, na verdade) isso não seria muito diferente. Um anjo da guarda novato no Sistema Angelus faz descobertas chocantes e decide quebrar todas as regras oficiais da proteção dos humanos. O enredo começa a tomar corpo quando o personagem principal se envolve indevidamente com a humana Miriam (Kéfera Buchmann) e parte à procura do Chefe para tirar satisfações. No entanto, ele descobre que… bom, Ninguém Tá Olhando.”
“O primeiro efeito comparativo interessante à nossa própria humanidade surge já quando Uli é apresentado às quatro regras que jamais devem ser quebradas (caso sejam, o transgressor é obrigado a assistir ao filme Cidade dos Anjos, com Nicolas Cage, para o resto da eternidade).”

  1. Cumprir a Ordem do Dia.
  2. Não aparecer para os humanos.
  3. Não proteger humanos fora da Ordem do Dia.
  4. Jamais entrar na sala do chefe.

Foi ele...
Foi ele…

“Seguindo um arquétipo básico de novato questionador, Ulisses já deixa claro no primeiro episódio que não é como os outros Angelus. Realizando perguntas que partem das dúvidas mais básicas até as maiores reflexões possíveis, o personagem é o fio condutor existencialista do debate que a série propõe de maneira muitas vezes sutil”. Crédito: www.adorocinema.com


E é aí, que entra o nosso interesse sobre a série no que diz respeito ao Clube do Tarô. No episódio 6, (Des)crenças, que foi ao ar no dia 22 de novembro de 2019, a crença de Miriam na astrologia atrapalha sua relação com Uli.


Vale ressaltar como algumas linhas de diálogo se destacam em meio a determinadas situações. As cutucadas feitas pelos Angelus a respeito de como a humanidade mudou desde que eles foram concebidos, há cerca de oito mil anos, são muito bem desenvolvidas. Desde “a ascensão da astrologia como tendência”, até os charlatões religiosos e coaches, a série tece críticas sem perder a leveza de seu tema ou acabar tornando-se mais agressiva do que seu tom permite”.

 Imagens disponíveis em www.netflix.com/br/title/80244700 Os crédito das fotos vão para Aline Arruda
Imagens disponíveis em www.netflix.com/br/title/80244700 Os crédito das fotos vão para Aline Arruda

Contudo, aqui nenhuma crítica é feita de maneira unilateral, e este talvez seja o seu maior mérito. Até mesmo a personagem fanática pelos signos, que são “alvo fácil” devido a sua falta de comprovação científica, possui argumentos palpáveis que seguem o caminho inverso ao discurso contra astrologia. Uli, por exemplo, é contra o estudo de mapas astrais, mas também está preso aos próprios sistemas e crenças, das quais não abre mão sob nenhuma circunstância. Algumas piadas, no entanto, acabam sendo facilmente telegrafadas, especialmente com assuntos que se tornam desgastados pelo uso recorrente, como a astrologia, que ganha inclusive um episódio inteiro de destaque.


Confira o episódio 6 e o 7 da série Ninguém Tá Olhando e divirta-se com a possibilidade de não só ser guiado pelas estrelas, mas também pelos Angelus, numa série brasileira que reinventa anjos da guarda, mas sem falar de religião. Usam todos o mesmo uniforme: calça preta, camisa branca, gravata vermelha. E todos são ruivos. Os Angelus lembram os anjos da guarda do cristianismo, mas não são a mesma coisa. Têm um par de asinhas no alto das costas, só que nunca voam, não atravessam paredes, não ouvem preces e não atendem promessas.

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