O Arcano XV nas tiragens

Posted by: Valéria Fernandes

Normalmente, o que vemos nas imagens do arcano Diabo nos mais diversos tarôs é um ser meio humano, meio animal, meio mulher, meio homem. No Tarô de Marselha é exatamente essa a descrição. Já no Tarô Mitológico, encontraremos um ser meio animal e meio humano, aprisionando pelo pescoço um casal que pode dançar livremente, porém ambos também têm chifres como a figura do Diabo.

Acredito que a plasticidade física transmitida por este arcano, condiz com nossa plasticidade moral. O que me faz pensar que a figura do Diabo é o próprio reflexo da criação do homem para o homem, que tem o livre-arbítrio de assumir ou não a postura dessa lâmina.

Desde os tempos longínquos criamos seres para adorarmos e seres para repelirmos, o que se faz necessário em virtude de termos esses dois lados dentro de nós, muito embora seja difícil admitir quando somos levados por nosso “eu antagônico” perante toda uma sociedade.

A carta do Diabo expressa nossos excessos, nossas ambições desmedidas, nossa falta de moral, nossos desejos reprimidos, nossos medos e nossos segredos inescrupulosos, ou seja, todo lado obscuro pertencente ao ser humano.

E a não aceitação de si mesmo, a vergonha de ser o que é ou de estar fazendo algo que não se pode afirmar ser consenso social, também está implícito nessa carta.

Quando leio que este arcano está associado a “vigor sexual”, logo minha mente acrescenta a vivência e consigo intuir: “vigor sexual libertino, doentio, vicioso”, “normal”, nunca vi nessa lâmina.

Quando não se manifesta como sexo devasso ou libertino, se apresenta como sexualidade escondida, fruto de ações proibidas perante a sociedade, normalmente, pessoas que matem relações extraconjugais, não excluindo taras e relações incestuosas.

É comum encontrarmos nas leituras onde aparece o arcano Diabo como representante da ambição humana saudável. Particularmente, reconheço uma ambição saudável em um arcano menor, no Rei de Ouros.

Não compartilho a idéia de que uma carta é simplesmente positiva ou totalmente negativa. Acredito que somente o contexto pode assinalar a direção da interpretação.

Mesmo colocando de lado tais pré-conceitos, esse arcano nunca apareceu com um lado positivo em leituras para meus consulentes.

Esse arcano mostra sempre algo obscuro da psique de quem consulta o Tarô.

Vale ressaltar que, absolutamente, nenhum de nós pode afirmar que está a salvo de vez ou outra essa carta aparecer representando a nós mesmos, visto que somos humanos, temos medos, escondemos segredos somos vítimas de roubos, de atrocidades e estamos longe de sermos inabaláveis e inatingíveis!

 

 

O Diabo em um relacionamento

 

 
Tenho um exemplo de leitura de três cartas que faço antes de entrar em contato direto com o consultante, no qual aparece de imediato o Diabo assinalando que se tratava de uma relação extraconjugal.

A leitura no todo me apontou dois relacionamentos: um representado pelo Nove de Copas (Tema) e o outro pelo Dez de Copas (Prováveis Facilidades), tendo o arcano do Diabo no meio (Prováveis Obstáculos).

De imediato percebi que o consulente estava focado e com a preocupação maior no seu relacionamento extraconjugal, visto o tema se contrapor as prováveis facilidades, assinalado pelo casamento que leio no Dez de Copas.

Sendo assim, interpretei que a aflição do consultante estava no que escondia, no que não podia ser conhecido pela sociedade, visto através da lâmina do Diabo que se mostrava como “obstáculo”.

Para o consulente, mesmo que de forma inconsciente, o Diabo na leitura apareceu representando tanto o medo de ser descoberto por sua segunda relação amorosa/afetiva, quanto à própria ação em si de infidelidade, pois tinha vergonha de assumir ou se exibir como o parceiro que trai. A vergonha se estendia até para mim enquanto taróloga, no caso, conhecedora de seus medos e segredos no ato da leitura.