Investimentos de trilhões de reais estão programados para os próximos anos, se realizados podem levar o País para outro patamar, com os índices sociais, econômicos e o IDH melhorando significativamente. Há obstáculos no caminho, o primeiro surgiu em plena campanha: o câmbio. A valorização do real pode trazer problemas para a balança comercial, para setores industriais, para o custo na formação de reservas, enfim, pode provocar uma bela desorganização. Serra e Dilma são economistas e não se dignaram a discutir o assunto diante da plebe. Ao contrário, competiram acerbamente para ver quem era mais religioso, mais pró- -vida e contra o aborto, mais corajoso diante da ditadura, e assim por diante. Estes são temas importantes, mas foram discutidos com imensa leviandade. Saímos direto da ditadura militar para o marketing político, numa despolitização geral e irrestrita, como previsto. Ver a análise da carta natal do País em “O Brasil não é para principiantes” (https://www.profetisa.com.br/11257-2/).
MARTE E VÊNUS NAS ELEIÇÕES – No mapa do ingresso solar de 2010, calculado para Brasília, o essencial já estava lá. Em “Valores no varejo” (https://www.profetisa.com.br/valores-no-varejo/) observei que o Ascendente em Câncer, no VI setor da carta natal do país, enfatizaria o emprego, renda e crédito populares nas eleições, mas deixei de observar que Marte próximo ao ascendente, e em trino exato ao Sol em Áries, incendiaria o cenário; que a Lua regente do ascendente estava em Touro no setor X, do executivo, o que indicava o matiz popular e feminino, e Vênus, a dispositora, puxava a fila de cinco planetas no setor IX, relações internacionais, religião e sistema jurídico. Tudo isto é tão óbvio que dói.
A campanha começou morna e só esquentou no final de setembro com o caso Erenice e a manifestação das igrejas sobre o aborto. A partir de 21 de agosto, Vênus e Marte fizeram uma conjunção em Libra, belíssima no céu vespertino. Em 15 de setembro eles estavam em Escorpião no setor IX da carta natal, foi quando os ânimos se exaltaram, não só no Brasil; nas eleições americanas, nas manifestações em Paris, nos atentados no Iraque e Afeganistão, vimos o mesmo grau de exasperação. No dia 03 de outubro a Lua brilhava em Leão, próxima à Vênus natal, confirmando a dianteira de Dilma e a surpresa desta incrível lutadora que é a Marina que, de quebra, deu uma esperança ao Serra, que viu sua pontuação subir nas pesquisas. No dia 9, Vênus iniciou sua retrogradação e a conjunção se desfez, Dilma alcançou uma dianteira que manteve até o final. No dia 29, o planeta fez sua conjunção inferior e no dia da eleição estava em conjunção com Marte natal da carta do País, enquanto o próprio Marte em trânsito cruzava o MC, setor do executivo. Para finalizar, Marte representa a situação, regendo o setor X; e Vênus a oposição, regendo o setor IV.
As cartas natais dos candidatos são secundárias na avaliação, pois uma eleição não é uma corrida entre duas pessoas; o peso da situação econômica, o estado de ânimo da população, as alianças e apoios pesam bastante, até marqueteiros já sabem disto. Esta eleição deixou o tema completamente claro, Dilma não triunfou por características pessoais próprias, mas pela promessa de continuidade das realizações do governo Lula. O que será o governo dela também não se pode ler no mapa pessoal, mas no mapa do Brasil e seus desdobramentos, e no mapa da posse. A progressão secundária do mapa do país indica uma mudança no meio do céu para o signo de Gêmeos em conjunção com Júpiter, sinalizando uma importante mudança de estilo, relação com a imprensa, com o congresso, atuação internacional etc. No governo ela não fará o que quer, mas o que puder diante de condições dadas que ela não escolheu.
Em tempo, o astrólogo José Maria Gomes Neto publicou em seu site Oficina de Astrologia, um artigo precioso sobre o ciclo de conjunções inferiores de Vênus e seu impacto na política brasileira recente. Merece uma investigação mais ampla, este balé que Mercúrio e Vênus executam ao redor do Sol é importante, e os ciclos mais longos, mais ainda. Escrevi algumas linhas sobre a eleição na crônica “Assim no céu como na terra” (https://www.profetisa.com.br/assim-no-ceu-como-na-terra/).
A DESPOLITIZAÇÃO NA REPÚBLICA DE FICÇÃO – Não existe coisa pública no Brasil, para percebê-lo basta dar um volta na rua: o trânsito caótico, com todo tipo de infrações, carteiradas e gorjetas, gente usando carro como máquina mortífera, calçadas imundas, pedestres atravessando a rua fora da faixa e com o sinal fechado, atropelamentos no entra e sai do metrô, e a suave pirataria sob o complacente céu de anil. Ah! Mas a bagunça começou no Estado. É verdade, lá atrás sob o mestre de Avis, quando não se diferenciava o régio erário da fortuna pessoal do príncipe, e a profusão de cargos, emolumentos, prebendas e favores faziam a felicidade dos cortesãos. Transportado para o Brasil este Estado floresceu e aperfeiçoou-se com o tempo, resistindo bravamente à abolição da escravidão e aos desfiles militares de 1889 e 1930.
Durante o Estado Novo, o primeiro choque de modernidade: instituição do concurso público para o serviço federal. Rapidamente estes novatos descobriram que se a máfia vende segurança, políticos e burocratas vendem “legalidade”, comprável mediante agrados, favores e propinas. Durante a ditadura sociólogos e analistas políticos viam na industrialização um choque no sistema político que traria a dissolução do coronelismo, do compadrio, da república dos favores. Desgraçadamente foi também a época em que a política, no mundo, se transformava num grande negócio, exigindo comissões pra lá e prá cá, os norte-americanos legalizaram as propinas e agrados sob o respeitável lobby. E assim, PSDB e PT nascidos para oxigenar a cena política caíram rapidamente no pântano do patrimonialismo, a República dos Nhonhôs continua a pleno vapor. Hélio Beltrão e Bresser Pereira, dois intelectuais de respeito, tentaram desburocratizar e modernizar o aparelho de Estado, em vão. Nenhuma transformação pode ser esperada da parte de políticos e burocratas, eles estão perfeitamente confortáveis no atual estado de coisas.
Esta configuração do Estado reverbera na sociedade com temas dignos de Molière: a maioria da população declara acreditar em Deus e na vida eterna, mas a violência no País é enorme; a maioria é contra o aborto e apesar disso praticam-se centenas de milhares anualmente, nenhuma estatística no País é confiável, pois as pessoas mentem nas informações, os que sonegam e ajustam declarações de IR são os primeiros a denunciar veementemente as mazelas dos políticos. A lei é para os outros e a hipocrisia se torna compulsiva. Reverbera também no sistema partidário: o presidente da FIESP candidatou-se pelo Partido Socialista, enquanto Aldo Rebelo do PC do B recebia doação da multinacional Bunge, pelos préstimos no Código Florestal.
O declínio da influência religiosa arremata os males: mentir, fraudar, falsificar, corromper e roubar não são mais problemas, apenas operações de mercado.
A MÍDIA – Na ausência de oposição ao governo, a grande mídia tomou a si a tarefa, do jeito mais enviesado possível: ao invés de apoiar um programa político (inexistente) oposicionista, açulou as belas almas com denúncias no varejo e preconceitos contra nordestinos e os pouco escolarizados. O governo, irritado, propõe a instalação de conselhos sociais para coibir abusos. Eles existem, boatos são publicados como notícias e a difamação corre solta, mas um judiciário expedito deve dar conta disso. O problema da grande mídia é outro: um sujeito pilhado recebendo uma propina de um milhão de reais dá assunto para uma semana, uma sonegação de um trilhão anual não dá notícia nenhuma. O problema é a lógica da operação, no primeiro caso temos um rosto e um nome para demonizar, no segundo não, é uma prática generalizada e informe. Com isto a mídia ajuda a preservar a necessidade das pessoas providenciais.
Notícias fragmentadas e fora de contexto, quando não omitidas; matérias de lobby publicadas como artigos ou análise, metade dos telejornais ocupados por matérias policiais e acidentes pelo mundo. Seria normal que jornais franceses, espanhóis ou portugueses tomassem posição diante da eleição brasileira, mas os ingleses? Financial Times e Economist tomaram posição por Serra, aqui não há dúvida alguma: há muitos anos abandonaram o jornalismo e são porta-vozes da City londrina e Wall Street. Não há mais artigo ou comentário em que não ouvimos a cantoria: enriqueçam os ricos, apertem os cintos e todo poder às finanças. Da mídia não podemos esperar também um impulso para a transformação, estão perfeitamente contentes com o atual estado de coisas, escrevem e falam sobre o espírito republicano e em salvar a democracia, como se tivéssemos uma república e uma democracia!
A internet propicia algum empreendimento e uma árdua busca em pesquisa, de resto amplifica a loucura reinante que extravasou na campanha. O Estadão teve a péssima ideia de abrir reportagens e artigos para comentários dos leitores, é um verdadeiro Hospício, pessoas que ouviram falar disto e daquilo dão palpites sobre tudo numa linguagem horrível. É apenas uma catarse, ao que se resume a mídia atual. A mídia, na carta natal do País, está sob a influência de Marte-Áries.
OS BACHARÉIS – Quando as coisas desandam muito sempre surge alguém de boa vontade, ou malicioso, para propor uma lei nova a fim de coibir as mazelas. As leis são facilmente contornáveis e engrossam o caudal normativo já existente, o que é uma oportunidade a mais para vender “legalidade”. O nepotismo está proibido por lei, não há problema: o desembargador A contrata os parentes de B, que contrata os de C, gerando mais um trem da alegria. As licitações públicas são burladas facilmente com o acordo prévio das concorrentes.
O Judiciário brasileiro continua a dar show, atrapalhando o processo eleitoral, expondo suas divergências truculentas em público, intervindo sobre matérias legislativas em trâmite, lento, abarrotado, pedindo reajustes estapafúrdios, levantando dinheiro entre banqueiros para promoção de bocas-livres e criando no mercado negro uma tabela de vendas de sentenças judiciais. As forças policiais vivem numa simbiose com o crime organizado que é um verdadeiro sétimo céu. A linguagem jurídica brasileira continua a ecoar as Ordenações manuelinas do século XVI, tempo em que a Suprema corte tinha o poético nome de Casa da Suplicação.
Nenhuma república atual se aproxima do tipo-ideal. Estas mazelas estão presentes nos países latino-americanos. A burocracia e a corrupção são endêmicas na Rússia e na Índia e crescentes na China. A disputa por cargos nas comissões da UE e BCE faria corar políticos brasileiros. No Japão e na Coreia acabou a era dos suicídios por desonra pública. A coisa só é razoável em países com alto nível de renda per capita e população pequena, como Canadá, países escandinavos e pequenos países europeus. O Judiciário brasileiro está sob a influência de Vênus-Libra.
O atraso político brasileiro pode ser sintetizado em dois números: já somos a oitava economia do mundo (em PCC), mas ainda estamos em 73º lugar no IDH, isto é, carregamos uma pobreza avassaladora. Para eles não existe alternativa senão a informalidade, sonegação, pirataria, jeitinhos e expedientes de toda a ordem. A saída para isto é emprego, renda e crédito popular em alta, criar um ambiente para investimento, diminuir a carga tributária paulatinamente, garantir educação, saúde e segurança públicas minimamente. Fora disto é só resmungos, denúncias de miudezas e indignação na internet, e nada acontece, exceto a exasperação e criação de bodes expiatórios. A transformação possível será feita pela sociedade ou não será feita de jeito nenhum.
O FUTURO – E em meio a este atraso político será preciso compor um ministério e deixar um rastro de ressentimentos, negociar com uma coalizão instável, desagradar sócios desacelerando os reajustes de salários, aposentadorias e benefícios, direcionar os empréstimos do BNDES para infraestrutura e pequenas empresas, desagradar o mercado impondo restrição temporária à entrada de capitais, parar de comprar dólares emitindo dívida pública, os fundos de pensão estatais devem parar de subsidiar oligopólios. Isto é, enfrentar lobbies poderosos de cara. Dilma, gerente voluntariosa e ríspida, terá de aprender correndo as artes da negociação, talvez escoltada por Palocci. Impedir a qualquer custo a distribuição da receita do pré-sal, cujo destino deveria ser decidido através de plebiscito. Se estas coisas forem arrumadas nos dois primeiros anos, um círculo virtuoso estará definido para o resto da década. A presidente teve uma doença séria e está sujeita a uma recidiva, li comentários sobre a catástrofe como se Michel Temer fosse um novato idiota. Ele pode ser muitas coisas, mas certamente não um novato idiota. Há fatores inerciais poderosos na atualidade: dependemos de capital externo para os investimentos e temos uma economia altamente oligopolizada, são garantias contra desvarios políticos ou econômicos.
Há um trabalho gigantesco a ser feito nos próximos anos. Serra ganhou a eleição em todas as regiões onde a agropecuária predomina, com câmbio, seguros, financiamento e fertilizantes na pauta. Com o peso que o setor tem nas exportações a situação não pode continuar assim. Não é possível produzir tudo, mas não é conveniente continuar vulnerável em siderurgia, fármacos, fertilizantes e máquinas. A recente ascensão de milhões de pessoas ao consumo deve provocar uma desorganização no atendimento do comércio e serviços, isto estimulará a criação de novas empresas. Estas pessoas tendem a se tornar mais exigentes com o passar do tempo, inclusive com a política. Um esforço decisivo em prol da pesquisa científica será bem-vindo, especialmente naquela que gera resultados práticos.
O governo anda meio afoito no plano externo, intervindo onde não tem cacife. É melhor abandonar a obsessão com o Conselho de Segurança da ONU, um clube de potências nucleares, relíquia da Guerra Fria. Se concentrar na construção da Unasul, pois a América do Sul será um paraíso em 30 anos diante da escassez que vem aí. Guido Mantega acertou em cheio quando definiu a situação atual como guerra cambial, pois é isso que está acontecendo e não pode ser encoberto com eufemismos. Já a proposta de uma moeda internacional está correta, mas ainda é cedo; nem europeus, chineses e indianos estão preparados para dar este salto que provocará um declínio agudo na economia americana.
Há obstáculos pela frente que estão fora de controle do governo: aprofundamento da crise econômica mundial, alterações climáticas e desastres ambientais. Seria bom ter planos prévios para estas eventualidades, pois elas não são remotas e já cansamos de ver gente morta e desabrigada nas tempestades de verão.
Em dezembro, Marte penetra em Capricórnio e logo seguido pelo Sol, tudo isto em conjunção com Plutão, indicando que as duas semanas que antecedem a posse serão politicamente tumultuadas. A retrogradação de Saturno no setor VIII da carta natal pode pressionar o câmbio e a balança comercial exigindo intervenções mais precisas. Plutão em trânsito tensiona a conjunção natal Lua-Júpiter acirrando ódios e preconceitos. A entrada de Júpiter (janeiro) e Urano (março) em Áries é um tempo bom para resolver a legislação sobre o pré-sal. Marte transitará o ascendente da carta natal do País em fevereiro, enquanto Júpiter e Saturno fazem oposição no final de março. Teremos um começo de ano cheio de ação, que seguiremos neste espaço.
NOTA – O leitor que quiser se aprofundar na História do Estado brasileiro, mas não tem tempo para ler os clássicos (R. Faoro, Sérgio Buarque, Oliveira Viana, S. Schwartzman e outros), pode entrar num site de buscas e procurar por “patrimonialismo no Brasil”. Encontrará alguns artigos curtos que resumem o atual estado dos debates. Fundamental continua sendo o ensaio de Roberto Schwartz, As ideias fora de lugar, publicado na década de 1970, na revista CEBRAP. O importante é compreender que todos estes fenômenos estão relacionados, brotam de uma mesma matriz: uma sociedade civil raquítica. Reformas pontuais não darão conta de uma transformação essencial e necessária.
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