Publicado por Redação Clube do Tarô

Assim como a solidão, a velhice não é simpática, não é confortável e muito menos glamourosa; retratá-la como tal é tentar disfarçar a realidade sob o manto prateado e nebuloso da lua nova. Ninguém é novo para sempre, se quisermos viver muito precisamos aprender a envelhecer.
Todas as cartas do Tarot, sejam elas arcanos maiores ou menores, possuem várias dimensões ou camadas de interpretações. O Eremita representa a austeridade, sobriedade, concentração, prudência, iluminação e velhice (o passar do tempo).

Releitura do Eremita no Tarot inspirada na estética egípcia e no imaginário nordestino de Pedro Índio.
Releitura do Eremita no Tarot inspirada na estética egípcia e no imaginário nordestino de Pedro Índio.

Como exemplo disso, essa carta aparece no Tarot Nordestino de Pedro Índio: “Na imagem do Preto Velho (uma entidade de umbanda, espíritos que se apresentam em corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos que morreram no tronco ou de velhice, e que adoram contar as histórias do tempo do cativeiro. São divindades purificadas de antigos escravos africanos. Sábios, ternos e pacientes, dão o amor, a fé e a esperança aos “seus filhos”. São entidades que tiveram, pela sua idade avançada, o poder e o segredo de viver longamente através da sua sabedoria, apesar da rudeza do cativeiro demonstram fé para suportar as amarguras da vida; consequentemente são espíritos guias de elevada sabedoria.” (Andriolli Costa, em Colecionador de Sacis).


Depois de viver bastante, em alguma hora de nossa caminhada, começamos a pensar e debater mais sobre o morrer e suas mazelas do que sobre a vida e suas expectativas. Neste ponto o futuro é o presente, literal e/ou figurativamente. Como o futuro, quase sempre, foi e é empurrado para frente (quando eu me aposentar, quando “os meninos” saírem de casa, quando eu me separar etc.), precisamos agora agarrá-lo com afinco e vivê-lo da forma mais feliz e sábia que pudermos (felicidade, outra invenção da criatura).


Embora este assunto, a morte, ainda seja um grande tabu, fonte de medo e horror para maioria dos seres humanos, não dá mais repetir com segurança que a terceira idade é a melhor idade pois a pele, até do pé, já está enrugando, os ouvidos começam a nos trair ao telefone e até mesmo ao vivo, os olhos vislumbram sombras na visão periférica e, a paciência, se é que a tivemos algum dia encurta-se a cada tentativa de diálogo…descobrimos finalmente a tão falada terceira idade, a famosa terceira idade que é a melhor idade para…


Analisando a vida em termos de faixa etária, uma das formas de categorizá-la em 2022 (quando já existem muitas teorias e experiências relacionadas a uma vida infinita) é: de zero a 40 anos o homem está sofregamente ladeira acima perseguindo seus objetivos e conquistas; dos 40 aos 58/59 o ser humano continua ladeira acima, porém num ritmo mais contínuo e lento – é hora de buscar aqueles objetivos e metas que ficaram até agora em segundo plano por alguma razão prática ou emocional.


Entre 58 e 66 anos, as pessoas vivem um estágio de platô, no qual busca-se estabilizar a vida com certo conforto e segurança, preparando-se consciente ou apenas intuitivamente para usufruir “as delícias” da terceira idade, que chega para a maioria das pessoas aos 70 anos, ou um pouquinho antes (quando se atinge à aposentadoria e uma mudança de rotina), dependendo da forma como revisamos nossos valores aos 58/66 anos e estabelecemos objetivos para a nossa velhice, momento em que temos uma nova chance de assumirmos a responsabilidade de quem realmente somos e o que ainda queremos atingir na vida.


Num mundo politicamente correto o slogan da terceira idade definido como “a melhor idade” pegou bem pois além de valorizar uma faixa do público quase sempre invisível para sociedade permitiu, ao mesmo tempo, que os millennials e a geração Z das redes sociais pudessem, de uma forma elegante, aplacar e consolar a culpa por desvalorizar e “às vezes deixar num canto” as pessoas idosas, muitas vezes consideradas chatas e sem noção.


O fato é que se vivermos muito, como é o desejo universal do ser humano, necessariamente experimentaremos a terceira idade e a necessidade de encararmos nossa velhice com sobriedade e coragem que a idade exige e permite. A natureza é sempre sábia, pois por mais que queiramos viver para sempre, em algum momento ela começa a nos deteriorar, indicando que é hora de largarmos os bens e valores terrenos para embarcarmos no expresso 2222. Não importa os tratamentos médicos e estéticos feitos, uma boa alimentação regular, uma vida sem vícios, caminhadas e corridas, pois ela, nossa companheira fiel estará presente, e nos alcançará na estação final do percurso-vida, como bem definiu Gilberto Gil na sua música Expresso 2222:

E é nesse percurso, “na terra-mãe concebida de vento, de fogo, de água e sal, de água e sal, de água e sal, ô, menina, de água e sal” que a terceira idade, uma fase da vida normalmente de canseira, enfado e limitações nos revelará que ela está longe de ser a melhor idade, só se for para… para…

Deixe um comentário