O Hierofante e a Consciência de Si

Publicado por João Claudio Fontes

Meditando sobre o Arcano V, O Papa ou Hierofante, e lendo as atribuições tradicionais dos Arcanos na Árvore da Vida me parece que a atribuição mais correta é a que liga o caminho a Sephirah Hokmah a Tiferet, o caminho 15. A Sabedoria e a Bela Harmonia.

O Arcano V pressupõe uma harmonia entre os nossos elementos constituintes, o 4 elementos, Fogo, Ar, Água e Terra, equilibrados pelo quinto elemento, o Éter ou Espírito. Daí, ao meu ver, a associação tradicional desse arcano com a saúde. Me parece que, em termos de saúde, tem mais a ver com o equilíbrio dos “humores” ou temperamentos: o Colérico (fogo), o Melancólico (terra), o Fleumático (água) e o Sanguíneo (ar), do que com problemas específicos. Talvez com a coluna vertebral sim já que o Hierofante está na “coluna do meio”.

Todos certamente conhecem alguma coisa da Medicina Tradicional Chinesa. A base da MTC é justamente a teoria dos 5 elementos ou movimentos, o Zang Fu. A correlação com a Tradição Ocidental é a seguinte:

Terra -› Terra

Fogo -› Fogo

Água -› Água

Metal -› Ar

Madeira -› Espírito (Éter)

Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, a cada elemento pode ser relacionado um dos 5 Zang Fu:

Terra -› Baço

Fogo -› Coração

Água -› Rins

Metal -› Pulmões

Madeira -› Fígado

Cada órgão teria seus desequilíbrios físicos e psicológicos específicos. Então, me parece que o Arcano V aponta para uma visão mais holística da saúde e não para problemas e doenças específicos.

O Pentagrama é o pantáculo ou símbolo mais tradicional da magia e, por consequência, da Wicca. Significa o domínio, pela Vontade, dos elementos externos e internos. Como o “Homem Vitruviano” do Da Vinci, simboliza o ser humano desperto, o “Homem ou Mulher de Vontade”. É o símbolo primordial daquele que domina e é mestre do plano astral e que conseguiu unificar os seus vários “eus” ou sub-personalidades. Daí, ao meu ver, ser ele associado ao Mestre, o Sumo Sacerdote.

Em relação à isso, tradicionalmente se associa esse Arcano à “Religio”, ou seja, a Religião Natural que percebe a Unidade por detrás das manifestações naturais dos quatro elementos. Simplificando: o Panteísmo. Acontece que para se chegar a essa percepção da Unidade da Vida e da Natureza é necessário um longo caminho de “religação”…
Por isso esse Arcano, na Árvore da Vida cabalística, está ligando o Triângulo Arquetípico ao Triângulo Ético, via Hokmah e Tiferet. É um estágio já bem avançado do caminho evolutivo.

Nesse estágio o Mestre já é mais o Mestre interno, o nosso SAG (Sagrado Anjo Guardião, Augoeides), embora pode ser que se manifeste como um Mestre externo também, como as situações da vida, sincronicidades, pessoas que nos dizem algo significativo e eventos do tipo. É o Arcano do “Insight Metafísico”, a compreensão intuitiva das Leis e estruturas Cósmicas.

O signo de Áries associado ao Arcano indica o processo de manifestação cíclico de “queda” na manifestação e posterior retorno ao princípio, no caso, a Origem da nossa Alma e como retornar a ela.

Basicamente, o nosso caminho Único de retorno ao UM. Em Hokmah nós vemos Deus face a face.

Existe uma famosa estória Sufi chamada “A Conferência dos Pássaros” de Farid Ud-Din Attar, um dos maiores Mestres Sufi de todos os tempos, que trata da viagem de vários pássaros até o palácio do rei dos pássaros, o Simurgh.

Eles passam por vária provações e por 7 vales antes de chegar ao palácio do Rei. Cada um vai ficando pior que o outro. São as etapas do caminho. Mas quando eles chegam ao final, dos milhares que iniciaram a viagem só 30 chegam na presença do Rei. E, ao fitarem com os olhos o Simurgh eles compreendem que eles e o Simurgh eram o mesmo. Ninguém no mundo jamais tinha ouvido coisa igual!
Entraram em meditação e, passado um tempo, pediram ao Simurgh que revelasse o segredo do mistério da unidade e da pluralidade dos seres. E, mesmo sem falar, o Simurgh deu-lhes a resposta:

“O Sol da minha majestade é um espelho. Quem nele se vê vê sua alma e o seu corpo e os vê completamente. Visto que viestes como trinta pássaros, si-murgh (em Persa), vereis trinta pássaros nesse espelho. Se tivessem vindo quarenta ou cinquenta, seria o mesmo. Ainda que estejais agora completamente mudados, vós vos vedes como éreis antes”.

Mistérios da Fé…

Na Luz.