O Louco e a pergunta do corvo

Publicado por Yeda Braz

Já diz um ditado popular que, de médico e de louco, todo mundo tem um pouco, mas, há outro, não muito conhecido que, traduzido literalmente do inglês seria: pouco conhecimento é uma coisa perigosa (a little knowledge is a dangerous thing).

Ao estudar o Tarot e pretender fazer uma leitura, independentemente do deck que se escolha, o conhecimento dos símbolos é essencial. Nada, absolutamente nada em uma carta de Tarot é aleatório ou está lá apenas como decoração.

Vamos olhar com “olhos de ver”.

O Louco (0. Mato) no Tarocchi Sola Busca (1491)

No magnífico Tarot Sola Busca, de 1491, o Louco olha para o corvo, que, de acordo com o simbolismo oculto, é o “mensageiro dos cultos de mistérios, que aprendeu a expressar conceitos espirituais em imagens, que podem ser entendidas em diferentes níveis, tanto pelos leigos como pelos iniciados”.

Qual é a pergunta que o corvo faz ao Louco?

A cor do corvo nos remete ao nigredo, que é a primeira fase do trabalho alquímico e ao chumbo; pois, é da putrefação que vão surgir os elementos que, num próximo passo, enfeitarão a mesa do mago. Que “coincidência” essa carta nos presentear com um corvo, uma vez que o emblema do putrefatio é simplesmente: Caput Corvi!

Do seu lado esquerdo, uma corda com três nós pode, entre outras coisas, simbolizar os três estágios da alquimia: nigredo, albedo e rubedo e, porque não, uma alusão ao Rosarium Philosophorum, um texto alquímico atribuído a um famoso médico e alquimista do século treze?

O Carvalho, do seu lado direito, também tem ligação profunda com a alquimia (isso vai ficar para outra oportunidade), mas vale mencionar aqui que os alquimistas costumavam esmagar insetos que viviam dentro dessa árvore para, através de uma mistura com o sulfureto de antimônio, obter a cor vermelha, que permeia a maioria das cartas do Sola Busca.

Seu cabelo em forma de plantas mostra que ele está ligado à natureza, porque, como o trabalho alquímico, faz parte dela.

O instrumento que ele segura, preparando-se para usar, lembra uma antiga gaita de fole, um dos raros instrumentos que permite ao músico tocá-lo sem precisar pausar para respirar! Interessante… e muito relevante. Ora, quando bem estudado, a força simbólica de um arcano é muito enriquecedora!

O corvo encara o Louco e lhe indaga se está pronto para enfrentar a jornada que começará com o primeiro passo do Mago, na carta de número um.

Ao tirar o Louco em uma leitura, devemos olhar para o corvo e buscar dentro de nós as respostas para as perguntas que ele nos faz:

  • Você está preparado para iniciar uma jornada onde as coisas não parecem ser o que são e arcar com as consequências dessa escolha?
  • Está preparado para enfrentar sacrifícios que vão te moldar a ponto de você não mais se reconhecer?
  • Quer encarar o encontro consigo mesmo e deixar para trás o ditado “ignorance is bliss”, onde não mais será protegido pelo acaso, que, até então, protegia os desavisados?

Você já parou para refletir se está preparado para enfrentar o desconhecido e ser levado para um caminho cheio de surpresas sobre o qual pode não ter nenhum controle?

Se você, antes de ler esse artigo e ter acesso a essas informações, pensava que o Louco era apenas um bobinho, olhe bem nos olhos do corvo e responda, com sinceridade, se puder, às perguntas que ele fará.

No momento em que o Louco decidir tocar a gaita, ele terá dito sim para a jornada! Terá ouvidos de ouvir e jamais e será o mesmo novamente.

Você está pronto para caminhar com ele?

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