O Tarô é um baralho constituído de 78 cartas, dividido em arcanos maiores (22 lâminas) e arcanos menores (56 lâminas). Os arcanos maiores originaram o baralho dito profano, que perdeu uma figura da corte, o Cavaleiro. Este oráculo é tão antigo que não há como definir sua origem. Egípcios, indianos, chineses, hebreus e outros povos teriam concebido as cartas. Um baralho semelhante ao que conhecemos surgiu na Europa, no século XIV, e o Tarô de Marselha, o mais popular, data do século XV.
![Os cavaleiros da Távola Redonda, buscadores do Santo Graal. [www.la-litterature.com]](https://profetisa.com.br/wp-content/uploads/2023/05/cavaleiros-da-tavola-redonda-buscadores-do-santo-graal.jpeg)
Os arcanos maiores podem ser apresentados como uma saga, onde o Herói (O Louco) enfrenta perigos e desafios, como a procura do Graal, os 12 trabalhos de Hércules, as aventuras míticas de Ulisses, ou qualquer narrativa de teste pessoal e superação. É a estrutura essencial de mitos, lendas e contos de fadas, comum a todas as culturas e línguas, cujos elementos simbólicos se repetem: a busca de algo, uma tarefa a ser cumprida, o encontro de adversários, mas também de companheiros (do latim, o que traz o pão), um encantamento mágico ou efeito ilusório, a luta contra os inimigos, o êxito, o cumprimento da tarefa e a volta para casa, enfim vitorioso.
Na linguagem do Tarô, enfrenta-se A Morte (arcano XIII), a tentação ou armadilhas (O Diabo), os perigos ocultos (A Lua), encontra-se o amor (O Sol), até que se alcança a recompensa (O Mundo). A cada carta, vemos a representação das etapas da história. Lá estão a infância, a formação e a maturidade, o destino e o livre-arbítrio, as frustrações, as quedas e as novas esperanças, a vontade de viver que sobrepuja o medo. Todas as dores, mas também todas as alegrias das descobertas feitas em cada idade.
Quando me perguntam qual é a melhor carta do Tarô, respondo que não há melhor, ou pior, carta, porque todas são necessárias. Não passamos por dores ou perdas por acidente ou por artes de um deus malvado. Cada evento, por mais incompreensível que pareça, tem um sentido na cadeia de acontecimentos que formam o passado, o presente e o futuro de cada um. Podem não explicá-los totalmente, mas ajudam a compreender nossos erros ou acertos, transcendendo os limites de “bem” e “mal”.
O Tarô sempre foi usado para ler a sorte nas feiras, nas ruas (as cartomantes que vemos perambulando ou sentadas à espera de clientes são uma repetição de tempos arcaicos), nos cafés, nos salões elegantes, tratado como um jogo de mensagens secretas à espera de serem decodificadas, utilizado em grupo. A linguagem simbólica do Tarô foi mantida e difundida pela tradição oral. Mesmo se usado como divertimento (nas cortes) ou como instrumento de adivinhação (nas feiras populares), seu significado mais profundo de busca do autoconhecimento não se perdeu. Já foi dito que, se uma pessoa fosse enclausurada com apenas um baralho de Tarô, sem um livro sequer, adquiriria sabedoria e conhecimento. O Tarô conta histórias: do indivíduo e da sociedade. Basta saber ler.
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