Origem Esotérica do Tarô

Posted by: Constantino K. Riemma

Múltiplas influências

Uma boa parte dos estudiosos da origem das cartas jogar e do Tarô reconhecem que não se trata de uma invenção casual. Indica claramente um fundamento simbólico que, para muitos, traduziria o significado e as propriedades do Cosmo, bem como o papel do homem na Criação. Seria produto de uma Escola (escola dos criadores de imagens da Idade Média, como sugere Oswaldo Wirth). Nessa direção de pensamento, o Tarô seria uma criação de Escolas francesas e/ou italianas, no final do séc. XII, sem qualquer relação com indianos ou chineses. A favor desse ponto de vista pesa o fato de não ter sido encontrados jogos iguais aos arcanos maiores em outras culturas.

Boa parte das imagens do dos arcanos maiores do tarô clássico guarda íntima relação com a iconografia cristã presente nas catedrais góticas, construídas a partir do séc. XI [Ilustração da mandorla: www.pitt.edu]
Boa parte das imagens do dos arcanos maiores do tarô clássico guarda íntima relação
com a iconografia cristã presente nas catedrais góticas, construídas a partir do séc. XI
                                      [Ilustração da mandorla: www.pitt.edu]
Há muitos estudos que apontam as relações entre o Tarô e Cabala. De fato, as 22 lâminas dos “trunfos”, ou “Arcanos Maiores”, são em igual número ao das letras do alfabeto hebraico e ao dos 22 “caminhos” ou conexões entre os sefirot do desenho simbólico denominado “Árvore da Vida”. As 40 cartas numeradas, dos Arcanos Menores, representam o mesmo número de sefiroth da “Escada de Jacó”, esquema resultante da superposição de quatro “Árvores da Vida”.

Tal constatação, porém, não exclui a hipótese de contribuições árabes, que tiveram um forte e prolongado impacto, através do sufismo, sobre a mística cristã, em particular na Península Ibérica.

Há estudos que afirmam que as cartas de jogar foram levadas para a Europa pelos cruzados. Contudo, a última Cruzada terminou mais ou menos em 1291 e não existem referências que comprovem a presença de cartas de jogar na Europa até pelo menos cem anos mais tarde.

Um período de ouro

Trovadores,porta-vozes do "Fin'amor" www.ocmusic.org/soc_oc/societ_p.htm
Trovadores, porta-vozes do “Fin’amor” www.ocmusic.org/soc_oc/societ_p.htm

Não é implausível, para alguns autores, imaginar o nascimento do Tarô por volta de 1180, período de grande força criativa na Europa, embora as primeiras menções registradas ocorram apenas duzentos anos após, em 1391. A razão para isso, segundo eles, seria simples: na origem, o Tarô não tinha a função lúdica de jogo de paciência ou de apostas em dinheiro, mas desempenhava o papel de estimular a reflexão pessoal sobre o caminho espiritual. Desse modo, ele não poderia ser mencionado como jogo de lazer nas crônicas da época.

“A essência do Tarô – escreve Kris Hadar – se funde de modo maravilho à mística que fez do séc. XII um século de luz, de liberdade e de profundidade da qual não temos mais lembrança. Nessa época, a mulher era mais liberada que hoje.”

É no correr desse período que são erigidas as catedrais góticas, em memória da elevação do espírito, e que aparece igualmente a busca de um ideal cavalheiresco que alcançará sua perfeição graças aos trovadores e o Fin’Amor, que colocará em evidência a arte de crescer no amor.

Para corroborar tal ponto de vista, pode ser lembrado que nesse mesmo período se desenvolvem os primeiros romances iniciáticos sobre os cavaleiros da Távola Redonda, a lenda do Rei Artur e a Demanda do Santo Graal.

Contemporâneo dos primeiros romances, o Tarô poderia ser considerado como um dos livros sem palavras (comuns na alquimia) para a reflexão e a meditação sobre a salvação eterna e a busca de Si, mesmo para quem não soubesse ler. Era uma porta aberta à verdade, tal como as catedrais, que permitiam aos pobres e aos ricos crescerem na comunhão com Deus.

“O Tarô” – afirma Kris Hadar – “é uma catedral na qual cada um pode orar para descobrir, no labirinto de sua existência, o caminho da Salvação”.

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