Os Arcanos Menores: o quatro naipes e as figuras

Posted by: Cristina Britto

Diz a lenda que os sacerdotes egípcios, guardiães dos mistérios sagrados, prevendo a decadência espiritual da humanidade, reuniram-se para encontrar um meio de preservar e salvar o ensinamento sagrado para o futuro. O mais sábio entre eles afirmou que o declínio moral levaria ao vício, e que este deveria conservar e perpetuar o conhecimento até uma época em que ele poderia ser novamente difundido.

Assim surgiu o Tarô.

Se o vício esconde a sabedoria, pode-se entender a proliferação de falsos profetas e videntes. A questão não se limita a saber se o cartomante tem o dom de ler as cartas, mas com que intenção ele se dedica a tal ofício. Há os que induzem o cliente a falar de si, e a partir daí conduzem a consulta. Outros têm o conhecimento, mas seu verdadeiro interesse é dinheiro e poder. Para ambos os tipos, o oráculo cobra seu preço, dando-lhes o que desejam por um tempo e por fim derrubando-os de sua torre.

Os arcanos menores são um conjunto de 56 cartas, dividido em quatro naipes, sendo cada um deles formado por uma seqüência de 1 (Ás) a 10 e quatro figuras da corte (Valete, Cavaleiro, Rainha e Rei). Podem ter sido criados antes ou depois dos arcanos maiores, e estão ligados à cartomancia tradicional, adivinhatória, e ao baralho profano, utilizado tanto nos jogos de azar quanto por cartomantes. Ou seja, é o conhecimento eternizado pelo vício.

Os quatro naipes são: Paus (ou Bastões), Copas (ou Cálices, Taças), Espadas (ou Gládios) e Ouros (ou Moedas). Cada um deles se relaciona a um elemento, respectivamente, fogo, água, ar e terra. Paus e Espadas representam o princípio masculino, yang, ativo; Copas e Ouros, o princípio feminino, yin, passivo.

O naipe de Paus exprime o verbo querer; os substantivos que o nomeiam são vontade, ação e impulso. Representa o poder terreno, a força criadora, crescimento e recomeços, a potencialidade do ser humano. O naipe de Copas liga-se ao verbo saber; os substantivos que o descrevem são sentimento, emoção e desejo. Retrata a sensibilidade receptiva do homem, a necessidade de afeto e de se ser aceito, amor e relacionamentos, ideais. O naipe de Espadas simboliza o verbo ousar; os substantivos que o manifestam são mente, pensamento, conceito, idéia. São os combates travados no caminho que leva do material ao espiritual. O naipe de Ouros liga-se ao verbo calar; os substantivos que o expressam são matéria, realização e esforço. Ele é a riqueza que transcende a matéria.

As figuras da corte, mais do que características físicas, revelam aspectos da personalidade e do caráter, tanto do consulente quanto de pessoas de seu círculo ou que ele conhecerá. Os Valetes são os iniciantes (em qualquer aspecto), os aprendizes; seus talentos, ainda latentes, necessitados de ser descobertos e desenvolvidos. Os Cavaleiros estão no plano intermediário entre a matéria e o espírito, e correspondem aos esforços concretos que visam à realização, à conquista de objetivos. As Rainhas correspondem a todo simbolismo feminino, seus mistérios, a concepção. São o símbolo da mãe, da protetora, mas também da lutadora. São a inteligência sutil e a aceitação, mas não conformismo. Os Reis representam a autoridade, pessoas maduras, não necessariamente idosas, o arquétipo do pai, protetor, orientador.

Os arcanos menores têm dois aspectos, opostos e complementares: o da utilização na cartomancia, servindo para previsão; e como instrumento para a evolução. A explicação para isto é simples. É a partir da matéria, da compreensão da existência no plano terreno que o homem tem condições de alcançar níveis mais profundos e sutis.

Para Mebes, o entendimento dos arcanos menores depende do nível evolutivo do estudante, por ele considerá-los um “grandioso esquema do caminho iniciático”. Segundo Paul Marteau, os arcanos menores “possibilitam a manifestação das conseqüências que levam às realidades”, ou seja, eles esclarecem e complementam as informações e orientações dadas pelos arcanos maiores.

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