Poemas: 15. Diabo a 21. Mundo

Posted by: Redação Clube do Tarô

15 – O Diabo

* * *

 

Renato

 
Todo mundo nu.
Liberou geral.
Entro nessa ou não ?!
out.05

Marcas
Alberoni

 
Pelo toque profundo
marcas incrustadas na pele
lembradas por anos e vidas
ainda por viver.

Depois, um instante em reflexão
parado no templo,
seu reflexo como gotas de orvalhos
destruidas pelo Sol
em faces coloridas.

Mais tarde, mais adiante
quando tudo for esquecido
e despojado de tudo
retoma o processo.

Ganha com isso
sua própria vida!
nov.05
 

 

16 – A Torre

 

 

Engano

 

Eunice Arruda

afinal
construímos prédios
casas jardins rosas
desabrocharam
trêmulas, afinal fomos
submissos às ocupações do dia
às estações do ano
à rotação da terra

Pensávamos ser esta a nossa pátria

 

Grito
Alberoni

 

 
Soltei um grito (inumano) há pouco,
logo agora
às dezesseis horas
nesta segunda-feira cheia de calor.

Não sei porquê.

Veio-me pela boca
como algo inesperado, algo inusitado
algo perdido.

Pareceu-me que morria por dentro
o que eu queria com o coração
e não me era permitido ter
nas minhas mãos.

Tanta coisa aconteceu
logo após o grito e … por segundos!

Naquele instante
senti que morri. Naquele instante
senti
que morri. Naquele instante
senti que morri.

Naquele instante senti que morri!
mar.07

* * *

 

 

Renato

 

Garrafa de champanhe estourada,
prazer carnal consumado.
Presente do Diabo ou dom da Estrela?
out.05

Toque
Alberoni

 

 
Se meu toque
lhe parecer violento
você se engana.

Meu toque de alma é suave,
meu toque apenas alinha as cores
que da essência fogem
pelo transcorrer da vida.

E não são elas que lhe devem dar a tônica
a fibra, a primeira escolha sensível
durante o único dia!

Por isso o mantra abrupto
– para lembrar você e os seus
e pelo apego de si acima de tudo,
donde vem, para que nasce
para onde deve focalizar
seu primeiro olhar. Sua fundamental vida!

nov.05

17 – A Estrela

 

Bom dia

 
Alberoni
set.o7

Não quero que meu dia
seja melhor que o bom dia
que desejo a todos.
Quero somente
que tenha luz e calor humano
nascente dentro de mim.

O resto, o próprio dia
me dará como sempre acontece
a quem confia.

Só quero da esperança
um traço bem escrito
na areia da praia.
A imagem cria
um momento/eterno.
As ondas do mar
o apagam no instante correto,
e nossa vida pela vida criada,
saúda o Sol nascente
como se nossa alma renascesse…

a cada instante!

 

* * *

 

Bete Torii

 
No jardim silencioso,
protegida pelo céu,
ouço estrelas
e o cantar das águas.
Eterno caminho entre elas eu sou,
e confio.
jun.06

* * *

 

 

Renato

 

Quase uma deusa,
nada retém.
Flui seus dons,
para todos os seres.
out.05

18 – A Lua

 

Amor intenso
para uma Lua brilhante
Cristina Guedes

 

É bom que seja assim, Lua, que não percebas.
Voz e noite constante tuas perdas.
E sozinha suponho ser brilhante
Essa voz importante em que me vejas.
Da distância, Lua, já não temas.
Eu jamais pediria tuas cenas.
E meu ouvido escutaria tua tristeza
Para o sumo do teu pranto ser nobreza.
Porque é melhor sonhar tua beleza
E sorver, reconquistar minha certeza.
Pensando bem, Lua
É bom que seja assim, que não percebas.
E o amor do amanhã seja riqueza:
A cada noite, eu menina, vou preparando
Um aroma desse licor em tua mesa.
E o verso em cada noite vai falando
Se fazendo de tua sábia alteza.
Porque tu sabes que é de poesia
Que minha vida te deseja.
Tu sabes, Lua, que à distância
sigo te observando,

Pois antes de ser mulher sou incerteza.
E que o meu corpo existe porque me deixas
E sempre existiu orando, Lua, e tu não beijas.
Ainda que tu me vejas um instante
Que um gole de Cassis em ti esteja.
setembro.08

Lua com sopro de Sol
Alberoni

 

Antes que as rugas
que a idade me trouxe
se transformem em rusgas
por uma vida percorrida
de maneira incompleta…

lançarei meu laço
e envolverei a mim mesmo
para me entender.

Percebo
que não apenas eu
está envolto pelo laço
e que partes de você me penetram
na pele e não deixo soltar.

Largo o laço mais adiante
e o queimo com certo ânimo
e atenção.

Nada se formará mais por aqui,
deixarei os sentimentos soltos
deixarei a luz desta lua
me alimentar
deixarei meus passos seguirem
a mesma trilha … sem pensar.

E as rugas … Que rugas?
Criança alegre a brincar
não tem rugas para se preocupar!

mar.07

Instintos
Renato

 

O poder dos instintos,
protege e alimenta,
a vida terrestre
e deixa transparentes
as carências da alma.
out.05
 

Noite sem Lua
Alberoni

 

Noite sem Lua
mas não escura
neste canto onde adormeço
após o dia e seu cansaço.

Parecem triviais estas palavras
mas não quero mais que isto:
um espaço pequeno
para plantar e colher
uma rede para balançar
a musa, um livro
uma flor para ofertar.

Nada mais que isto
eu quero nesta noite quase escura.

O resto, o resto de tudo
o resto desta vida que é tão pequeno
bem além deste canto recanto
onde medito e profundamente vejo …

Passem ao largo!
Deixem para amanhã!

abr.06
 

19 – O Sol

 

Fraternidade
(para Alberoni)

 

Rodrigo Araês

Quando nasci meu pai adoeceu,
quando nasceu meu irmão, meu pai renasceu.
Demorei muito para entender
o contraste de nossas vidas.
Sou o último dos primeiros sete,
ele o primeiro dos últimos sete.
Nos nossos grupos de estudos representava
o bisturi que lancetava o tumor,
meu irmão era o curativo
que cicatrizava a alma.
Sou o Atanor onde se queima a Grande Obra,
Ele, o elixir da vida,
panacéia das dores do mundo.

Suas poesias são um oceano,
em cujo seio a imaginação se libera,
na escrita sou um pântano,
que poucos atravessam.
Busco na mente a chave dos mistérios,
Ele acessa a sabedoria
pela via amorosa.

Meu irmão, é uma grande árvore,
em sua sombra se refazem os viajantes cansados.
Sou um cacto, alucinogênico,
que impele as pessoas à morte do eu pessoal.
Um úmido, outro seco.
Posição variável, dependendo do grupo.
No meio poético ele é a Luz e eu a Sombra,
a parte oculta do iceberg.
Em outras plagas os papeis se invertem,
ele é o Nagual, sou Tonal.

Juntos formamos um todo.
Somos princípio e fim da nossa família.
O fim de um é princípio do outro.
Quem o conhece,
pressente minha presença,
quem me conhece,
reconhece a força velada.

Não se iludam,
somos puro mistério.
Não se acomodem,

somos mortais.
jun.03

 

Transparência
Renato

 

 
Abertura e simplicidade,
afetos às claras.
Nada por ocultar
aos olhos da consciência.
out.05
 

20 – O Julgamento

Escrever
Alberoni

 

A arte de escrever se relaciona ao arcano 20. O Julgamento: a pessoa se antepõe de maneira até drástica frente aos seus bloqueios, aos seus problemas, pois o simples fato de tentar explicar o mundo os confronta constanemente.
A poesia tem a ver com o arcano 19. Sol − da nossa essência − que vem através do rítmo. Há uma interessante relação entre os dois (Julgamento e Sol) que não cabe aqui explicar. De qualquer modo quem atinge o 19, assume o próprio destino.

Confuso tudo isso? Pois é, com poema seria mais claro, pois atingiria a alma (10. Roda da Fortuna), sem necessidade de explicações (20. Julgamento).
mar.07

 

Passagens
Alberoni

 

 

Ao abrir a porta
só vai encontrar mistério.

Talvez um castelo dos sonhos
com seu urso de pelúcia e o som
da música barroca
que sempre lhe foi tão cara!

Quem sabe, no entanto…

Quem sabe no entanto
aquela face medonha
gritando haikais, enlouquecida,
logo após a porta
sabendo, medrosamente sabendo,
que já não pode voltar!

E talvez,
simplesmente
nada.

Apenas o escuro esquisito
simplório, tolo, absurdo
como um suspiro aliviado,
que desaparece
com o acender da luz…

Na escada!

out.05

21 – O Mundo

 

À beira do rio

 
Alberoni

Deixei o meu coração
na beira do rio, protegido por pedras
e por um pássaro brilhante.

Não poderia levá-lo na viagem de barco
rumo ao desconhecido,
por receio das náiades entre as pedras
e da água chamando meu corpo –
as margens sombrias com as plantas
que me tocavam e suas folhas lustrosas…
Medo do luar frio das noites pesadas.

Não contava com a limpidez das águas
e do cantar do pássaro pernalta
que acompanhou o meu percurso,
como alegre companheiro.

Nada me disseram das pessoas
dos rios oferecendo alimentos
ou dos devas buscando conversas á meia luz
e seus cocares e seus colares
trêmulos
ao vento disperso e rico!

Voltei muito ao longe e bem tarde:
as pedras sumiram
meu presente a Terra recolheu
em seu ventre
para proteger como mãe assombrosa….

E vi meu coração para além do rio,
perambulando nos olhos dos peregrinos
no meio do mato, cantando poemas,
brincando com os que tornam sua vida
como algo doce para ser vivido!

Eu me vi caminhar calmamente
entre as patas dos animais
e no riso das crianças,

eu me vi nesta encruzilhada
sem fronteiras … e pleno.

set.05

 

 

O mundo e a papisa

 

 

 
Alberoni

Minha visão é melhor
pois não percebo
os pensamentos.

Eu os vejo.

E tudo me aparece
como um quadro vivo,
que descrevo
com certa nitidez.

− Queres ajuda
por tudo que passas,
sem compreender?

Silencie
seus pensamentos.
Adormeça um pouco,

veja.

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