Procurando estrelas

Publicado por Rui Sá Silva Barros

Às vezes a astrologia é literal como em 17/4 na Câmara Federal: Marte (regente do Executivo) retrogradou e Júpiter (regente do Legislativo) recebeu a passagem da Lua. Não foi à toa que a família fosse tão evocada, nosso satélite lembrou aos deputados que estavam ali para ‘fazer’ um patrimônio familiar e que mais da metade deles tem parentes na política. Os jornalistas estrangeiros que cobriam o processo de deposição estavam perplexos, ele era comandado por Cunha, de grande folha corrida, e mais da metade dos deputados têm pendências judiciais, o Brasil não é mesmo para principiantes. O jornalista Mario Sérgio Conti lembrou-se do filme Terra em Transe de Glauber Rocha e eu da Geleia Geral de Gilberto Gil: êêê bumba meu boi/ ano que vem, mês que foi/ êêê bumba/ é a mesma dança meu boi. Foi um show brega sem reparos.

Yes, nós temos bananas. Capa de disco.
Yes, nós temos bananas. Capa de disco.

Depois da maciça votação estava claro que o dobre de finados havia soado para o governo Dilma, seguindo-se a tediosa discussão no Senado com votos da Comissão já decididos de antemão. Enquanto isto Temer se embananava com a procissão de gente a sua porta cobrando os votos que deram no plenário. Anunciou um ministério de notáveis e recuou, um corte de ministérios e cargos e recuou novamente. Convidou para a Justiça o compadre Mariz que criticou a Lava Jato e recuou. Alguns convidados declinaram educadamente temendo pelo fiasco. O PSDB, dividido pelas pretendentes a 2018, mantinha-se a uma distância segura até que dois editoriais (Globo e Estadão) puxaram-lhe as orelhas em público e o partido cedeu, mas entregou uma lista de demandas para salvar a honra. O afastamento de Dilma ocorreu com uma quadratura Júpiter/Saturno no céu, afetando o Sol mapa do Brasil (Virgem) e o do mapa de Dilma (Sagitário), outra literalidade.

A todo o momento anunciam que as instituições funcionam, nem tanto, a coisa está uma bagunça. A política foi judicializada, dos ‘n’ motivos para depor Dilma, escolheram o mais frágil e jurídico para não fugir a nossa grande tradição bacharelesca; o resultado disto é que o Judiciário foi politizado, o Supremo defenestrou Cunha porque a Câmara não conseguiu fazê-lo, esperou o impeachment andar para realizar a suspensão do mandato. As consequências deste embaralhamento de cartas serão pesadas. Temer ficou em dúvida: não sabia se aliviado – pelo afastamento de um indesejado – ou preocupado – se prenderem a mulher de Cunha ele é capaz de partir para a delação premiada, o estrago será incalculável.

O governo Temer

Nosso colega e amigo, Gerson Pelafsky, publicou uma mapa natal do Temer e com a competência habitual notou a importância da conjunção Júpiter/Saturno na casa 9, o vice é especialista em Direito Constitucional; está assumindo com uma quadratura destes planetas e com Saturno oposto à Lua natal. Vênus está na casa 12, próxima à Vênus natal do Brasil que rege o Judiciário. Vênus dispõe do Sol em Libra e da conjunção em Touro, com a qual está em quadratura, ele assume acusado pelo governo de ser um traidor (casa 12). Tem o Sol em oposição a Plutão natal do país, o que dá um indício do que vai enfrentar, e a Lua na casa 10 o que é descrito como sinal de popularidade, entre políticos e jornalistas não há dúvida, mas não para a população em geral.

O quinteto do poder Foto do www.tribunadaimprensaonline.com
O quinteto do poder.
www.tribunadaimprensaonline.com

Ele vai ter que reunir muita coragem para propor ao Congresso um ajuste duro num ano de eleições municipais. Quem vai pagar o pato? A Fiesp já garantiu que ela não, mas o novo governo precisa liquidar imediatamente os subsídios e isenções fiscais para setores selecionados. Provavelmente precisará elevar impostos para equilibrar o Orçamento. Isto é só o início, a maior despesa é o pagamento de juros, no ano passado foram 500 bilhões e este ano mais, um corte na Selic e ouviremos chiadeiras do sistema financeiro e grandes empresas. Precisará contrariar interesses de grupos poderosos e profundamente enraizados. É possível que grande parte do ajuste recaia sobre os trabalhadores. Os leilões para a malha viária não precisam passar pelo Congresso, a inflação declina e a balança comercial está positiva, o que é favorável. Diante deste cenário já seria uma grande coisa se a recessão estiver contida em 2017.

E há a Lava Jato, muitos políticos do PMDB estão citados, inclusive o núcleo que cerca Temer (Jucá, Padilha, Geddel e Moreira Franco) e Renan está com 10 inquéritos no STF. O processo de cassação da chapa Dilma/Temer prossegue no TSE. A suspensão de Cunha deixou um vazio na Câmara, o atual presidente (Waldir Maranhão) também está na Lava Jato e votou contra o impeachment, o núcleo do PMDB não decidiu ainda se o apoia ou abre novas eleições. Ao ingressar em Gêmeos, o Sol se opõe a Marte perto da conjunção Lua/Júpiter do mapa do país, o que pode resultar em tumulto no Congresso ou povo na rua.

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O PT exerceu o direito dos perdedores ao jus sperneandi: foi golpe, foi vingança do Cunha, as pedaladas serviram aos programas sociais, a ruína da economia veio do exterior e do Congresso que rejeitou o ajuste, vão acabar com os programas sociais e último ato, Waldir Maranhão tentou anular o processo. Concluído o afastamento prometem incendiar o país, o MST e o MTST podem bloquear avenidas, estradas e prédios, mas se a PM não reprimir estupidamente isto deve desinflar rápido. Greves, num cenário de desemprego alto, são improváveis. Obstrução no Congresso com 20% de bancada não dará em nada. É bem provável que liquidem a possibilidade de Lula concorrer em 2018 levando adiante alguma das investigações em curso e, se forem espertos, esperarão 2017 para prendê-lo, agora tumultuaria ainda mais as coisas.

O partido colhe o que plantou. Usar licitações e empresas estatais para financiar campanhas eleitorais e comprar votos no plenário foi uma má ideia, fazer política econômica voluntarista foi um desastre, estimular o consumo das classes populares esperando politização foi um equívoco fatal: o governo teve 54 milhões de votos em 2014, as manifestações pró-governo não reuniram nem 100 mil pessoas nas grandes cidades. O que poderia acontecer de melhor ao partido? Eliminar o caciquismo, renovar a direção, fazer uma autocrítica a rigor e recomeçar. Dificilmente isto ocorrerá até o afastamento definitivo de Dilma.

Alguns pesquisadores e analistas anteciparam o desastre que se avizinhava, Francisco de Oliveira publicou em 2003 O Ornitorrinco, uma visão detalhada sobre o sumiço de projetos nacionais de desenvolvimento na redemocratização e prevendo que o governo Lula seguiria na mesma toada. Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, publicou vários artigos mostrando que o governo do PT deixou a indústria declinar, reprimarizou as exportações, aumentou a participação estrangeira no capital das empresas e aumentou a dependência tecnológica; um dos artigos onde tudo isto é explicado: Nacional Desenvolvimentismo às avessas (2011). Eurelino Coelho defendeu a tese Uma esquerda para o Capital na UFF, em 2005. Ele consultou centenas de documentos do partido e concluiu que em 1995 houve uma virada total: ganhar eleições, receber doações de grandes empresas, profissionalizar a militância, dar a direção a filiados com mandatos políticos, extinção de imprensa própria etc. Estes textos estão acessíveis na internet.

Povo na rua — Podemos ler o sociólogo Luiz Werneck Viana sem susto. Ele anda otimista, recentemente publicou o artigo O espírito do tempo e nós (Estadão, 1/5/16), onde afirma que estamos numa era de transformação, que as manifestações iniciadas em 2013 ganharam uma dinâmica própria e que extratos sociais já não toleram as arruaças da casta política. Na crônica anterior assinalei que passamos por um momento astrológico especial com 4 dos 5 planetas lentos fazendo aspectos ao Sol natal do país; as condições para uma transformação profunda estão dadas.

As organizações que puxaram a mobilização a favor do impeachment já começam a compreender que Temer já cedeu ao jogo do toma lá dá cá. A transformação depende inteiramente desta gente prosseguir as manifestações e é fácil prever que a casta tentará cooptar a liderança das ruas e neutralizá-la. É um bom tempo para reler Conciliação e Reforma no Brasil, de José Honório Rodrigues, publicado em 1965.

Bolsa Família

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Ela está novamente na tela, ficou sem reajuste em 2015 e o governo resolveu reajustar no Dia do Trabalho. Já se escreveu e disse muita bobagem sobre o programa, mas ele é barato, copiado no exterior e para virar vagabundo com 160 reais por mês é preciso muita imaginação (é o valor da média por família). No entanto o programa encobre um problema real e grave, o país tem 35 milhões de empregados formais no setor privado, um número baixo para a força de trabalho (100 milhões) ou para o total da população. Além disto, 12 milhões deles são terceirizados e 24 milhões ganham até 3 salários mínimos. Por que o Brasil geral tão pouco emprego formal? Isto tem uma relação direta com o nível da violência, a urbanização caótica e o endividamento gigantesco das famílias.

Os empresários responderão que a formalização é baixa porque a carga tributária sobre a folha de pagamento é alta, dobrando o total. Outros observarão que a carga é alta para contrabalançar o baixo nível salarial, a maioria dos empregos criados na era Lula pagavam até 1,5 SM (Márcio Pochmann). Qual a saída, jogar todos na informalidade ou dobrar os salários e extinguir a carga tributária? Na última hipótese o país viria abaixo, o governo perderia o INSS e o FGTS, os empresários protestariam dizendo que o povo não sabe cuidar das próprias contas e no final eles arcariam com a bagunça e os sindicatos dos trabalhadores veriam nisto mais um golpe, uma retirada de direitos adquiridos. A coisa é muito simples, com o salário dobrado cada um cuida de poupar para a aposentadoria, para o caso de desemprego, quando e por quanto tempo tirar férias etc. É liberdade demais, o povo não está pronto? O Brasil está pronto para um choque de capitalismo?

Mundo afora

EUA — Trump é o candidato republicano. Ele conseguiu expressar o ressentimento de milhões, que perderam renda e emprego desde Reagan, elegendo bodes expiatórios óbvios: mulçumanos e imigrantes. Quem será que trabalha nos hotéis e cassinos do bufão? Não será surpresa se a resposta for: imigrantes. Quanto de bazófia e retórica tem tudo isto? Hillary ainda é favorita, mas deve se preparar para enfrentar uma artilharia pesada a partir de agosto.

União Europeia — Na França, reuniões noturnas diárias na Praça da República contra a reforma trabalhista proposta pelo governo socialista com Plutão oposto à Lua natal e Marte oposto a Marte natal (veja o mapa da França). Na Alemanha, grande manifestação contra o Tratado comercial que a União negocia com os EUA; com Marte e Saturno em oposição ao Sol, Mercúrio e Vênus natais (veja o mapa da Alemanha). Na Inglaterra, um mulçumano foi eleito pelo partido Trabalhista para a prefeitura de Londres e o xenófobo UKIP arrebatou muitas prefeituras no interior; o governo que patrocinou um referendum sobre a permanência do país na UE, está aflito, pois concluiu que a saída será prejudicial para a economia inglesa. Tudo isto ocorrendo com um retorno de Netuno em quadratura a Saturno no céu (veja o mapa da Inglaterra). Na Espanha, não conseguiram ainda formar um governo e Marte se aproxima de uma conjunção ao Sol natal (veja o mapa da Espanha).

Argentina — O governo Macris foi recebido com alívio pelo descalabro causado pelos anos Kirchner. Apesar de medidas arbitrárias, o governo foi saudado pela imprensa internacional, pelos credores e até por Obama que lá compareceu. A situação era péssima e o ajuste agravou-a com alta inflação e desemprego, uma manifestação sindical significativa ocorreu recentemente e a euforia inicial cedeu. Plutão caminha em direção à Lua natal do país que está em oposição ao Sol, o que prenuncia dias de tumulto (veja o mapa da Argentina).

Boas notícias

Apesar da proximidade de Marte e Saturno, nenhuma violência física mais séria ocorreu até agora, mas a tensão continua até agosto quando Marte ultrapassa Saturno.

Znarf é um leitor que posta comentários pertinentes. Na última crônica ele observou que estamos na Kali Yuga e faltam 427 mil anos para o final. Ele está usando o ciclo de 4 milhões, trezentos e vinte mil anos, que é apropriado para as condições geológicas e climáticas do planeta. Para a história humana usa-se um ciclo astronômico de 64.800 anos, 2,5 X 25920 (tempo de uma precessão dos equinócios). Este ciclo também é dividido em quatro fases: 40% (ouro), 30% (prata), 20% (bronze) e 10% (ferro). Como a Kali Yuga teve início em fevereiro de 3102 AC, já transcorreram 5118 anos dos 6480, quer dizer estamos no final. A cosmologia védica é a mais detalhada de todas e tudo que escrevo tem aí seu fundamento, como já deixei claro em crônicas anteriores.

Nosso colega e amigo, Douglas Marnei, é também arquiteto e aficionado de mitologia, música e pintura. Há tempos ele reúne material para um livro que agora está no forno com todos estes temas. O texto é muito bom e cheio de belas ilustrações, é um biscoito fino que chega em boa hora, precisamos muito de discernimento e beleza.

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