A restauração do Tarô de Marselha por Philippe Camoin e Alejandro Jodorowsky

Publicado por Leonardo Chioda

O tarô conhecido como “de Marselha” perdeu com o tempo sua verdadeira referência simbólica das cores, que foi recuperada em 1998 com a restauração do mais famoso baralho de tarô graças a Philippe Camoin e Alejandro Jodorowsky. O tarô de Marselha de Camoin e Jodorowsky contém todo o simbolismo já conhecido, assim como algumas dezenas de detalhes simbólicos sem os quais professores, peritos e amadores do tarô não poderão mais trabalhar sem elas.

Com relação às cores, por exemplo, a restauração está radicalmente diferente dos tarôs de Marselha impressos a partir da segunda metade do século 19, que trazem apenas o vermelho, o amarelo e o azul, sem o azul claro e nenhuma outra cor. Estas cores primárias, não originais, foram copiadas a partir de um baralho Camoin de 1880 na época da Era industrial, devido ao surgimento das máquinas que não podiam imprimir mais de essas três cores. Nos anos 1860-1880, um antepassado de Philippe Camoin, foi obrigado a restringir-se a estas novas cores para poder adaptar-se às máquinas. Assim, nasceu uma edição particular para ampliar a produção em massa, exigida pela demanda das cartas. São estas cores primárias utilizadas a partir de 1880 que 50 anos mais tarde foram retomadas por outros impressores. Depois de 1930, durante 70 anos, o público pensou sem razão que estas cores tinham um significado esotérico… Desde 1998, porém, as cores restauradas do tarô de Marselha de Camoin e de Jodorowsky estão mais próximas da autêntica tradição.

 

 

Os restauradores

 

 
Philippe Camoin e Alejandro Jodorowsky são mestres em tarô e ambos lecionam sobre o assunto. Jodorowsky se dedica ao tarô de Marselha há mais de 40 anos. É também roteirista de quadrinhos e cineasta que realizou vários filmes de teor esotérico, como “A Montanha Sagrada”, na década de 70. Philippe Camoin, no entanto, ensina o seu próprio método de acordo com as novas descobertas sobre a estrutura do tarô. Camoin revela, em seu site, aos peritos em tarô do mundo inteiro detalhes históricos e reproduções de pranchas de impressão dos mais velhos jogos de tarô fabricados em Marselha. Um dele é o de François Chosson, datado de 1672 e do qual rarísssimos estudiosos tinham conhecimento. Um perito americano Robert O’ Neil, em comunicação com Philippe Camoin, pôde voltar à dos tarôs fabricados em Marselha até 1608, ao menos – bem distante da data de 1760, que muitos historiadores colocam como referência usual..

Ele também revela novos dados históricos que poderão alterar as os dados sobre a difusão do tarô no mundo ocidental. De acordo com ele, foi o monge Jean Cassien, recém-chegado do Egito e fundador da Abadia
de Saint-Victor em Marselha, no ano 400 d.C., quem contribuiu para transmitir à Europa Ocidental os ensinamentos secretos de uma doutrina original do baralho. Teria sido a ordem
de Saint-Victor que, nos anos 1000, reinou sobre todo o território onde mais tarde se encontrariam os mais velhos tarôs e as mais velhas menções a esse jogo. Este território compreende o norte da Itália, o norte da Espanha e o sul da França, território sobre o qual floresceram os cátaros e os templários.

Philippe Camoin é o último herdeiro da Maison Nicolas Conver que criou, em 1760, seu próprio tarô de Marselha, perpetuando a tradição dos antigos mestres – entre eles François Chosson, de 1672.

A reconstituição do tarô de Marselha por Camoin e Jodorowsky é mais um marco do renascimento de uma tradição adormecida há vários séculos, que vai além do simples jogo de cartas.

Esta reconstituição estimulou vários outros processos de comparação entre os símbolos presentes nos inúmeros jogos da Europa e o recriado de acordo com a legítima tradição do tarô de Marselha.

Não se trata de uma cópia ou de uma restauração propriamente dita de um jogo antigo, pois a especificação “restauração do tarô original” se justifica como a “restauração de um sistema filosófico complexo”. O tarô é considerado um portador do conhecimento iniciático, uma máquina metafísica cujo jogo de cartas é apenas o suporte.

Em conjunto, Philippe Camoin e Alejandro Jodorowsky reconstituíram o simbolismo do tarô marselhês de acordo com cópias e registros antigos, fora do alcance do grande público. Acrescentaram, obviamente, elementos próprios como sempre fizeram os mestres de cartas.

Os símbolos originais foram apagados ao longo das gerações de mestres de cartas e impressores. A descoberta do ovo situado abaixo da águia na lâmina do Imperador foi um acontecimento decisivo e confirma a quantidade de símbolos esquecidos que estavam escondidos e esperando a revelação.

As outras descobertas permitem ao usuário compreender o motivo sobre o tarô ter sido construído originalmente. Entre os símbolos restaurados mais nítidos para o grande público, pode-se citar as duas serpentes entrelaçadas nos pés da “Temperança” e os quatro elementos no Ás de Copas.

De todos estes novos símbolos reconstituídos no tarô de Marselha, surge uma nova didática plenamente adaptada ao século 21, que contou com a grande colaboração de Philippe Camoin e Alejandro Jodorowsky.

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