Tarot: fusões e confusões

Posted by: Harah Nahuz (Carla Daniela Balenzuella Nunes)

A estrutura simbólica do Tarot permite correlacionar diversas linhas de filosofia, mitologia e, por que não, outras mancias? Faz parte do processo de assimilação criar paralelos entre conceitos. É como se o cérebro fosse um bibliotecário, que estabelece parâmetros para categorizar cada livro que recebe. Toda informação ou situação nova é examinada, verificada e rotulada de acordo com premissas anteriores, referências estabelecidas.

Portanto, a tendência natural de quem tem uma afinidade com a cromoterapia, trace paralelos com as cores, tão literais em cada imagem. Apreciadores de numerologia inevitavelmente farão associações e análises dos arcanos sob um prisma “pitagórico”. Terapeutas florais que associarão cada vivência arcana com uma diferente essência, correlacionando as energias latentes com as flores e plantas das quais se extrai os bálsamos.

Loucas desfigurações Ilustração de autor desconhecido
Loucas desfigurações
Ilustração de autor desconhecido

Da mesma forma, aqueles que têm na astrologia uma ferramenta de autoconhecimento e direcionamento, buscarão atribuir aos arcanos essa visão, ou partir do ponto de vista planetário para estabelecer signos e significados.

No meu entendimento, esse trabalho é extremamente enriquecedor e amplia a capacidade de raciocínio e estimula consequentemente o desenvolvimento das interpretações… até certo ponto.

É preciso ver claramente que quando se trabalha com o tarot, ele é que deve ser o protagonista da cena e não um figurante que testemunha e depõe sobre um personagem que sequer está ali presente.

Outro ponto importante: ao reformatar o tarot numa outra mancia, limitamos a sua abrangência. Ele tem um formato especifico, uma estrutura própria; assim como as outras mancias, e no momento de encaixar um no outro, tem que se dobrar dali, amassar de lá, tirar um pedacinho acolá… e nesse processo, acaba desfigurando ambos.

O mais importante é se perguntar (e responder com franqueza) até que ponto conhece a outra vertente na qual se busca embasamento para a interpretação do tarot (sendo que esse é totalmente estruturado por si mesmo).

O fato de concluir um curso não atesta capacidade para atuar nessa área. Somente o trabalho diário, paralelo ao estudo e à atualização constantes é que molda um profissional com excelência. No tarot é da mesma forma e, também, nas outras vertentes de mancias e terapias. A partir disso, mensure a responsabilidade que é, fundir duas áreas. Literalmente, tem que se saber do que está falando.

Nesse contexto, corre-se o risco de massificar os símbolos e uma leitura pessoal e intransferível. De repente acaba “servindo” para todos arianos, para todos que vem com a missão 9 na alma, para todos cuja alma precisa do amarelo, para todos que precisam de Rescue…

 Representações coerentes do Mago Carta do Morgan-Greer Tarot

Representações coerentes do Mago
Carta do Morgan-Greer Tarot

Alguns tarots, tidos como transculturais e surrealistas, trazem agregados novas propostas e novas visões, e se por um lado isso é positivo, pois “desenha” o tarot para que mais olhos possam ver, por outro corre o risco de ficar na superfície, de se ver apenas o que ali se projeta, e se embasa nas outras bagagens: ao invés de uma fusão, vira uma confusão.

Conheço ótimos profissionais que transitam entre várias vertentes e é tão leve esse passeio, que com facilidade acompanhamos, andando de mãos dadas com a proposta: mais que entendimento, obtemos uma total compreensão, pois o profissional realmente sabe do que está falando e criou um elo entre os mecanismos filosóficos e terapêuticos, resultando num todo, com-pleto e perfeito. Flui.

Por outro lado, existem profissionais que nesse transitar cria um verdadeiro engarrafamento: ficamos “na calçada” esperando a hora em que o “sinal vai abrir” ou seja, o momento em que será dito algo que faça novamente caminharmos naquela ideia. Parece um chão feito com materiais diferentes: piso, cerâmicas, cacos de pedra, ladrilhos e, obviamente, não há uma nivelação. Não sentimos firmeza sob os pés. Não sabemos para onde olhar: muita informação e pouco conhecimento.

O conhecimento é o ponto de partida. Há de se praticar com inteligência (do latim Inter = ‘entre’ e legere = ‘escolher, separar o que interessa, ler’) e foco. Essa combinação gera resultados no processo alquímico de Fusão. Se qualquer um desses elementos estiver ausente, teremos apenas um malabarismo improvisado de Confusão.

Deixe um comentário