A questão do tempo pode ser tratada de um modo bem simples e descomplicado pelo iniciante no Tarô. Basta se libertar dos modelos fixos de tiragem e exercitar as variações adaptadas ao assunto que pretende estudar. Por exemplo, imaginemos o caso em que tenha sido feita uma tiragem de três ou cinco cartas para entender certo projeto, focalizando o lado positivo e negativo da iniciativa, o prognóstico ou rumo provável e o conselho estratégico. Nesse caso, se o estudante tiver dúvidas quanto ao ritmo do projeto, se ficar sem saber como deduzir os prazos desejáveis, isso será perfeitamente compreensível, visto que nenhuma carta havia sido sorteada com essa finalidade…
Uma solução prática para tais lacunas consiste simplesmente em retirar do maço cartas com o propósito específico de compreender o tempo envolvido no projeto. Se quiser saber o andamento nas três semanas seguintes, tire três cartas para indicar o que se poderá esperar de cada semana. Se quiser saber em que ritmo o assunto caminhará nos seis meses seguintes, poderá perfeitamente retirar seis cartas para retratarem cada um dos meses futuros. Se o interesse é o de antever como estará o assunto no prazo de um ano, faça o sorteio de uma carta definida para oferecer essa informação.

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Alguns sorteiam cartas complementares dentro da própria tiragem inicial. Outros preferem fazer uma nova tiragem com o propósito específico de examinar a questão dos prazos e do ritmo esperado para o assunto em questão. O estudante pode experimentar os dois caminhos e definir sua preferência.
Uma prática que dá excelentes resultados: anotar as questões formuladas, as cartas que saíram e o que foi interpretado no momento da tiragem. Conferir mais tarde essas anotações com o que de fato ocorreu. Nada substitui a experiência viva e seriamente avaliada para ganharmos confiança no Tarô e em nossas próprias leituras.
Rapidez x estabilidade
Um exercício bastante útil para trabalhar a questão do ritmo e da dinâmica que podemos associar às cartas é o de ordenar os 22 arcanos maiores por ordem de maior dinamismo e velocidade para os de maior estabilidade e resistência.
Os tarôs antigos, que guardam traços da iconografia esotérica cristã, permitem uma apreciação direta da “velocidade” ou “lentidão” de cada arcano sem as subjetividades ou adulterações das livres-invenções posteriores. Sugiro, abaixo, breves indicações dessas facetas nas cartas, lembrando que não se trata um modelo absoluto, mas de um exercício.
Por exemplo, se tomarmos como referência o Tarô de Marselha ou um de seus antecessores, como é o caso das cartas abaixo, de Jean Noblet (1650), poderemos selecionar as cinco cartas mais rápidas:
São as cartas mais “ágeis” do tarô. Todas as cinco indicam movimento, um andamento sem empecilhos. Nada é mais instantâneo do que o raio que destrói a Torre. O movimento da foice, para cortar de modo eficiente, exige rapidez e habilidade de quem a utiliza. O Carro em movimento e a Roda também indicam processos dinâmicos. O Louco é o próprio andarilho, que segue incansável e imperturbável o seu caminho.
Em contrapartida, também é muito fácil reconhecer as cartas que melhor representam a estabilidade e, portanto, a imobilidade:
As cinco figuras assentadas em seus tronos, fazem um contraponto evidente ao movimento e desembaraço das anteriores. Elas podem ser consideradas de dois ângulos: do ponto de vista negativo, são cartas sem pressa e que podem implicar em demora. No entanto, do ponto de vista afirmativo, são cartas que indicam durabilidade, estabilidade e confiança na sustentação das coisas e dos valores. A ordenação dessas cinco figuras reais talvez possam ser feitas, pelas imagens acima, a partir do Imperador, como o mais disponível para a ação e para o movimento exterior, ficando a Papisa e a Justiça como as mais estáveis e assentadas, ou, como também se poderia afirmar, as mais lentas e menos sujeitas a mudanças.
Ação x aceitação
Se as 10 cartas acima são bem explícitas com relação ao ritmo dos acontecimentos, restam outras 12 para encontrarmos novos significados dinâmicos.
Cinco arcanos têm uma peculiaridade em comum: seus personagens estão com as mãos ocupadas, fazem alguma coisa, atuam com intenção clara para que o desenrolar dos acontecimentos ocorra de acordo com uma meta definida:
Dentre os cinco personagens acima, o Mago é o que mais claramente se aproxima do Louco, no grupo mais rápido. Mas como ele não está andando, podemos considerar que seu movimento seja mais ponderado e estudado do que o do arcano sem número. Nesse sentido, até cabe considerar o Eremita como mais rápido que a Temperança, que se encontra parada; no entanto a figura angélica da carta 14 indica muita flexibilidade nas trocas horizontais e na comunicação vertical (inspiração do Alto para realizar sua obra na Terra). A Temperança sugere maior maleabilidade do que a Força. Já a Estrela, que também tem mão no jogo, como as outras quatro, revela uma postura de menor prontidão para se deslocar no espaço.
Em contraponto a esses arcanos que indicam espaço para a vontade e para “ter mão no jogo” quanto ao ritmo e ao rumo dos acontecimentos, quatro cartas podem ser consideradas como representativas dos ciclos cósmicos, movimentos determinados num plano superior ao da vida terrestre e sobre os quais não temos possibilidade de intervir:
A Lua tem a ver com o ciclo mensal e suas quatro fases; o Sol representa ao mesmo tempo, o ciclo diário e o movimento anual (o tempo que necessita para percorrer o zodíaco), que marca as quatro estações. A Roda, que já havíamos considerado no grupo mais rápido, é igualmente uma analogia do próprio zodíaco, ou seja, uma roda com representações animais, que segue um rítmo próprio e que não pode ser alterado pelos desejos humanos. Nos tarôs mais antigos, por exemplo no Viconti-Sforza de 1450, a Roda traz no lugar dos animais, quatro homens que representam as quatro fases da vida, análogas às dos ciclos astrológicos. A quadruplicidade, ou seja, os quatro cantos da constituição do arcano do Mundo, indicam sua natureza celeste, pois seus pilares são os denominados “signos fixos” Touro-Escorpião e Leão-Aquário.
Destino x livre arbítrio
Restaram, por fim, quatro arcanos. Formam um quinto bloco. Têm eles algum ponto em comum? O que significam quanto ao ritmo e ao rumo dos acontecimentos? Arrisco responder ressaltando um traço que me parece percorrer esses arcanos: as provas, as tentações e o livre arbítrio.
Na cartomancia popular o Pendurado representa imobilidade, estagnação, castigo cármico; o Namorado é visto como um homem em dúvida, dividido entre duas mulheres. Sob esse olhar, constituem cartas de espera, sem movimento. No entanto, de um ponto de vista da alma, o Pendurado é alguém que se submete voluntariamente a uma prova, para avaliar seus próprios méritos. A carta dos Namorados pode ser compreendida como uma cerimônia de casamento, cujo sacramento pressupõe o livre-arbítrio; a figura da esquerda é o celebrante que interroga o jovem par se a consumação do matrimônio será feita de livre e espontânea vontade.
O Diabo é o “inspetor de qualidade” das intenções e compromissos que se pressupõe terem sido assumidas voluntariamente. O papel do Diabo (15) é o de atiçar e seduzir; os Namorados (15 → 1 + 5 = 6) escolhem o rumo e, portanto, as facilidades e/ou as dificuldades que enfrentarão no correr da vida. Sedução (15) e livre arbítrio (6) têm uma correspondência numerológica notável. E o Julgamento, que tarda mas não falha, está associado à avaliação final do ciclo de uma vida inteira, momento de recolhimento e tomada de consciência. Faz o balanço das escolhas motivadas ou pela rapidez e quantidade ou pela justiça e qualidade.
Breves apontamentos. Pistas de possíveis aprofundamentos para refletirmos, com a ajuda do tarô, sobre o tempo e os ciclos dos acontecimentos, sobre a dança entre as leis cósmicas e os espaços possíveis aos homens. Temas inesgotáveis!
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